23/09/2016

Rapaduras no Circuito do Vale Europeu em Santa Catarina - 3ª Parte

RODEIO-ZINCO - 29 Km - Dia 13 de setembro de 2016

Depois de uma noite bem dormida, favorecida pela energia boa da Casa dos Stolf e seguramente pela boa qualidade dos vinhos da San Michele, acordamos todos dispostos e cheios de expectativas para conhecermos o "Caminho dos Anjos" e a "Cachoeira do Zinco". Tínhamos ciência de que apesar de ser um trajeto relativamente pequeno, a altimetria das subidas do Ipiranga e do Zinco iriam exigir um pouco mais de esforço.
Logo na saída uma foto com o casal Stolf e uma rápida despedida daqueles que optaram por seguir de carro, aproveitando para levar nosso lanche/almoço a ser degustado no caminho.
Café da manhã com a família Stolf. Extensão da nossa casa.

Todo mundo com cara de sono.

Registro com seu Dandi e Dona Irene.
O marco zero desse dia fica no começo da subida do Ipiranga e ali paramos para um "retrato". Nesse momento Neide percebeu que o seu lanche do dia tinha caído do bagageiro da bicicleta. Por sorte temos o hábito de utilizar radiocomunicadores, o que possibilitou um rápido contato com Kuka, que prontamente organizou uma expedição de resgate ao lanche, tendo puxado o saquinho com as iguarias da boca de um cachorro do mato.
Nesse momento Neide ainda não tinha percebido que estava sem o lanche.

Contatos para show no privado.

Iniciamos a subida com o tempo frio, mas suportável. Não demora e você começa a encontrar os primeiros anjos espalhados por todo o caminho. As imagens são totalmente compatíveis com o lugar. O barulho que se escuta é dos pássaros e da água descendo até a cascata do Ipiranga. O silêncio somente é quebrado pelo som de alguma motosserra, pois afinal é um instrumento de trabalho muito utilizado na região.
A subidinha do Ipiranga.

Os anjos vão surgindo por todos os lados.

Sempre que você procura encontra um anjo.
De longe você começa a ver uma aglomeração maior de anjos e ao aproximar-se uma enorme estátua do Cristo. Ali reside o homem que idealizou aqueles anjos e alimenta o caminho com novas imagens. Observei um pequeno grupo trabalhando na construção de uma casa de madeira e soube depois que ali vai ser uma lanchonete/restaurante, bem como local de hospedagem. Mais uma opção do Circuito.
O nome na placa reflete bem o lugar.


Simplesmente lindo.

De braços abertos para nós.
Logo a seguir nos deparamos com mais uma das belas igrejas do caminho e tem início uma subida em caracol. Nesse momento encontrei uma senhora olhando admirada da janela de sua casa. Sem parar a bicicleta me dirigi a ela, dizendo: "parabéns por morar em um lugar tão lindo". Ela sorriu e respondeu: "obrigado pelos parabéns, hoje também é o meu aniversário". Nesse momento você enche o peito de ar e esquece que é uma subida.
Eu falei que a igreja é linda.
Subi mais um pouco e lá na frente encontrei Neide, Patrícia e Virgínia. Reclamavam mais do que bode embarcado, perguntando sobre o fim da subida. Para apimentar chamei no rádio Fabinho, Carlson e Paulo Cabral que estavam na dianteira. Perguntei onde estavam e disse que achava que tinham passado da entrada do Zinco. Nesse momento Virgínia arregalou os olhos e eu sai de fininho, rindo sozinho.
Quando termina a subida tem uma Tirolesa e ali foi o ponto de encontro para o lanche. Vinha tão entusiasmado que vi o pessoal parado, mas passei direto, descendo bem numa estrada ladeada por araucárias, somente parando ao chegar numa pequena comunidade com uma escola, uma igreja e algumas casas.
Parece cena de filme.

A descida termina aqui.

Escolha o caminho.

A agonia pra entregar meu lanche.
Não demorou e encontramos a placa indicando o acesso ao Zinco, restavam assim 8 Km para terminar nosso trajeto do dia.
Parte do grupo na entrada do acesso ao Zinco.
Um pouco mais de uma légua nos separava da Pousada do Zinco. Para que não sabe a ida ao Zinco é um opcional do Circuito, mas nós fizemos questão de visitar por vários motivos: primeiro, pelas informações dos outros ciclistas que por ali passaram; segundo, pelo fato de ser uma oportunidade de quebrarmos o trajeto até Doutor Pedrinho; e terceiro, por tratar-se de dez anos do Rapadura Biker e do Circuito do Vale Europeu, consequentemente, bodas de zinco.
Seguimos pela estrada e ao longe avistamos ainda meio que turva a Cachoeira do Zinco lá no alto. Fiquei calado, pois sabia que ali era nosso destino, significando dizer que teríamos uma longa subida pela frente. 
É pra lá que eu vou.

Quem vem lá.
Chegamos ao topo e pelo rádio seu Kuka nos deus as boas vindas. Na entrada da pousada fomos recebidos com sorrisos e palavras carinhosas por nossos colegas, no melhor estilo Rapadura Biker.

Ao entrar na Pousada sou recebido por Egon, o patriarca. De pronto fui presenteado com um sorriso e o convite para adentrar. Fui levado à sala e ali conheci o seu filho Andrea. Não demorou e vindo da cozinha surgiu a matriarca Margareth, oferecendo-me um abraço caloroso, daqueles que faz o perispírito chacoalhar. Lágrimas vieram aos meus olhos e fiquei alguns segundos sem palavras. Agradeci o abraço e fui conhecer o ambiente.
Tudo impecável.




Plano geral da Pousada.

Como diz Haroldo Motta: "é natureza brother!!!".
Chegou a hora de visitar o mirante para fazer um registro fotográfico da Cachoeira do Zinco, mas uma chuva fina nos segurava. Tudo tem uma razão de ser. Como no Zinco não tem wifi, nem sinal do celular, algo nos segurou ali alguns minutos, tempo suficiente para Fabinho receber uma ligação no telefone fixo da pousada, tendo que voltar naquele dia por razões profissionais. Rapidamente desmontamos a bicicleta dele, nos despedimos e fomos caminhando até o mirante. No caminho a chuva voltou e trouxe com ela um vento frio, mas para amenizar tivemos a surpresa da visita de Carlos, Malu e das filhinhas, unindo-se ao grupo para o jantar.
O jantar no Zinco. Tudo de muito bom gosto (foto de Egon Koprowski).
Durante o jantar o telefone tocou mais uma vez e dessa vez uma notícia muito triste do outro lado: o falecimento do pai de nossa colega Rosana fez com que ela e Jodrian tivessem que deixar o grupo ainda naquela noite. Lamentamos muito e ouvimos as palavras de conforto de Margareth.
Em meio ao momento triste a notícia alegre do aniversário de Malu, devidamente comemorado com o carinho do esposo, filhas e dos amigos.
Aniversário de Malu (foto de Carlos Beppler)
Foi seguramente a melhor dormida do Circuito e dessa vez não foi contribuição do vinho San Michele, mas toda aura e bons fluídos presentes no lugar.
Acordamos na hora combinada e soube que lá fora a sensação era de zero grau. Fiquei dentro de casa até o último minuto e na hora de colocar nossos agradecimentos no livro da Pousada resolvi fazer um arremedo de poesia cordelista, deixando assim a marca do povo nordestino. 
A despedida foi emocionante e após muitos abraços e palavras carinhosas saímos pedalando em grupo, com os registros fotográficos de Egon e a certeza que um dia voltaremos ao Zinco.
P.S.: Neide esqueceu o capacete.
Arremedo de poesia cordelista.


Antes da saída uma foto com a Cachoeira do Zinco ao fundo.

Espetacular registro de Egon Koprowski.










 








Rapaduras no Circuito do Vale Europeu em Santa Catarina - 2ª Parte

POMERODE-INDAIAL - 48 Km - Dia 11 de setembro de 2016

Após o café da manhã e a tradicional foto na saída do hostel, subimos nas bicicletas e voltamos até às proximidades da entrada da cidade, pois ali fica a placa sinalizando o início do segundo dia. Também fizemos o devido registro fotográfico, deixando a zona urbana com um sentimento de ter de voltar algum dia para conhecer melhor a simpática Pomerode.
Saída do Hostel Stettin.

Placa sinalizando o início do 2º dia.

O clima estava propício para pedalar e seguimos pela estrada de barro. Apesar de ser manhã de domingo as pessoas estavam trabalhando normalmente e sempre respondiam gentilmente aos nossos cumprimentos.
As primeiras subidas surgiram e foram transportas sem muito esforço. Em alguns trechos alguns desciam e empurravam. Faz parte.
O trecho é bem sinalizado, praticamente margeando um rio e é muito gostoso pedalar ouvindo o som da água corrente. Quando chegamos no ponto mais alto e antes de iniciarmos a descida fizemos uma parada para reagrupar, lanchar e beber uma água.
Teve até quem subisse empinando.

Sinalização padrão.

A água sempre ao nosso lado.

Hora do recreio.
É muito comum o encontro entre cicloturistas durante o Circuito. Nesse ponto encontramos alguns em sentido contrário e dois (Mato Grosso e Goiás) no mesmo rumo nosso.
Começamos então uma descida e logo tivemos a notícia de Patrícia tinha entrado numa vala, perdeu o equilíbrio e beijou o solo sagrado catarinense. Rapidamente a equipe médica (Paulo e Jodrian) examinaram a situação e concluíram que nada grave aconteceu, sempre sob o olhar atento do Professor Carlson. Após o atendimento cheguei perto para ver se estava tudo bem e ouvi a seguinte pérola de Patrícia: "Benilton me desculpe!". Indaguei por qual motivo e ela disse: "porquê eu cai". Foi estabelecido o primeiro bordão da viagem e acrescido mais um artigo ao nosso regimento: "em caso de queda do ciclista, desde que sobreviva, fica obrigado a pedir desculpas".
Seguimos o trajeto e logo alcançamos um simpático estabelecimento comercial, cujo nome na placa nos chamou a atenção. Paramos, invadimos literalmente o lugar, fizemos sanduíches e tomamos algumas cervejas pretas. Aproveitamos para conhecer uma pista de bocha, esporte muito comum na região. Nesse momento conhecemos Márcia, ciclista paulista que vinha sozinha e já havia recebido a informação lá atrás do nosso grupo. A partir de então ela nos acompanharia até a entrada do Zinco.
Bar já conhecíamos, mas cancha...

Seu Kuka arrumando as bicicletas.

Nosso representante da International Federation of Bocha dando uma conferida na pista

Momento da chegada de Márcia.

Nossos jogadores de bocha disfarçados para evitar tumulto.
Pedalamos um pouco e logo alcançamos o asfalto, atravessando a rodovia e fazendo uma parada em uma loja de conveniência para carimbarmos os passaportes. A essa altura o sol surgiu com força e iniciamos um trecho de subida, exigindo um certo esforço do grupo.
Novo trecho de descida e aqui é importante muito cuidado, pois a empolgação pode fazer com que você não observe a seta amarela sinalizando a entrada à esquerda. 
Nas proximidades de Indaial tem uma ponte e ali nos reunirmos para entrarmos juntos até o ponto sinalizado do término daquele dia. Fomos até o local, fizemos o registro fotográfico e nos dirigimos ao Hotel Indaial, local reservado para hospedagem. Apesar de não ficar no centro da cidade o hotel tem a vantagem de ser ao lado de um supermercado, permitindo assim facilidade no abastecimento de água e lanches.
Descidas empolgantes, mas exigem muita atenção.

Ponte em Indaial.

Mais um dia pra conta.

O calor pediu o chapéu de vaqueiro.

Nossa hospedagem em Indaial.
Como era domingo, resolvemos ficar no hotel. Compramos umas cervejas, uns vinhos, uns queijos, umas linguiças e fizemos a festa.

INDAIAL-RODEIO - 30 Km - Dia 12 de setembro de 2016

Tínhamos em mente que esse seria o dia mais tranquilo do Circuito, pois as subidas dariam uma trégua.
Devidamente abastecidos, saímos pelas ruas da cidade em direção ao ponto de partida do terceiro dia. Passamos por debaixo da ponte e seguimos inicialmente pelo asfalto e logo a seguir por um calçamento terrível.
Placa convidativa.

Sorry Benilton!!!
O nome do Bairro é Warnow e a arquitetura do lugar é muito linda. Nesse ponto é interessante prestar atenção pois existe a indicação de uma entrada à direita (700 metros) para visitar a ponte pênsil. Como o trajeto do dia é muito tranquilo, vale à pena ir até o local, atravessar a ponte e voltar ao trajeto. Logo adiante temos que transpor mais uma ponte de madeira coberta.


Casal de periquitos na ponte.

A ponte é utilizada normalmente por carros, bicicletas e pedestres.

Construções lindas.

Adoro uma casa velha.


O trecho seguinte é passando por fazendas e a estrada é muito tranquila, exceto por um ou outro motorista mais apressado.
Antes que você perceba já chegou em Ascurra e aqui você tem a opção de conhecer Apiúna, saindo 13 Km do trajeto. Na sinalização que indica a opção de desdobramento do caminho tem um supermercado na esquina, permitindo abastecimento e carimbo no passaporte.

Em Ascurra tem uma igreja muito linda e vale registrar uma foto nos seus degraus. Rapidamente você atravessa a cidade e vai encontrar o pórtico de Rodeio. Basta entrar um pouquinho à direita para fazer uma foto legal e depois continuar no trajeto.


Na chegada em Rodeio você já começa a perceber outra energia do Circuito. Aqui estamos deixando de lado as cidades maiores e entrando em Municípios que remontam as férias nas casas dos avós "no interior".
Fizemos o registro da chegada nas proximidades da Prefeitura e seguimos para o local de hospedagem: Cama e Café Stolf, uma hospedaria demasiadamente simpática e acolhedora. Somos recebidos por Marcelo Stolf, filho de Dona Irene e seu Dandi, que nos direciona aos quartos e nos orienta sobre local para almoço.



Depois do almoço (comida gostosa, franca e preço justo) fizemos um passeio pela cidade, tendo Paulo Cabral aproveitado para comprar pau de selfie, item que seria de muita utilidade doravante.
Fomo então visitar a "cascata" do Bairro Ipiranga e a Vinícola San Michele, situada no mesmo bairro. De início pensamos em ir pedalando, depois alguém sugeriu que fossemos caminhando e, finalmente, Marcelo Stolf apresentou a sugestão mais sensata: ele nos deixaria de carro e voltaríamos a pé. Aceitamos sem pestanejar.




Voltamos andando da Vinícola, cada um com uma garrafa de vinho e um pedaço de queijo. A noite optamos por ficar na hospedaria e de imediato Dona Irene nos arrumou uma mesa e cadeira. Tomamos todos os vinhos comprados e o único que escapou foi o que Fabinho comprou para tomar no aniversário da esposa Giulianna.
O terceiro dia tinha terminado.