III
Volta do “SANTUMÉ”
"Sonhe
com o que você quiser. Vá para onde você queira ir.
Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida
e nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades
para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E
esperança suficiente para fazê-la feliz."
Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida
e nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades
para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E
esperança suficiente para fazê-la feliz."
PRELIMINARES:
O
poema acima é ao meu ver perfeito para descrever a “Volta do
Santumé”, uma viagem de bicicleta no entorno da cidade de São
Tomé-RN, localizada aproximadamente 112 Km da Capital do Estado.
O
sonho na verdade foi de André Medeiros, legítimo filho daquela
cidade, que resolveu compartilhá-lo com alguns amigos (malucos). A
primeira versão ocorreu em 2011 e a segunda em 2012, ambas relatadas
aqui no blog, sempre contando com a colaboração do dublê de
repórter Fabiano Silva. Em 2011 participei juntamente com Evandro
(Bebê) apenas do primeiro dia e firmei um compromisso comigo mesmo
de fazer todo o trajeto em outra oportunidade. Em 2012 não foi
possível participar, mas em 2013 me programei, inclusive agendando
as férias para o mês de outubro, participando da volta desde a
preliminar no dia 03 de outubro, quando a cidade foi invadida por
mais de 100 (cem) ciclistas, fazendo dois trajetos na região, um de
20 Km e outro de 40 Km. Nesse dia optei por participar no carro de
apoio, poupando-me para os dias vindouros e contribuindo para o bem
estar dos ciclistas iniciantes que acorreram ao local e se depararam
com uma temperatura altíssima.
O
Grupo Rapadura Biker teve esse ano sua maior representação,
inclusive contando com uma presença feminina para fazer todo o
trajeto, algo até então inédito. Além de mim estiveram presentes
os Rapaduras: Erimar (Cabo Dantas), Josias (Sargento), Flávio Romilo
(Bombadão), Shirley (Lady do Rapadura), Roberto Carlos (o rei da
Limonada), Jadson (Crazy Man). De Barcelona a presença do incrível
seu Francisco (o cangaceiro da bike). De Bananeiras contamos com
Fernandinho, Chiquinho e Fran. Completando o grupo André Medeiros,
Fabiano, Bobil, Lalau, Werley, Bimbo, Wildson, Diego Borges, Vitor e
Hesli. Nos registros fotográficos contamos com Ivo PVC (o pirata).
Nos bastidores e apoio imprescindível de Verônica Medeiros, Luis
Faustino (Shortinho), Alicia, Ponciano, Franknildo e João Forever.
1º DIA: SÃO TOMÉ-INGÁ
DE SANTA LUZIA.
A saída foi por volta das
09h00min após um substancioso café servido na residência do clã
dos Medeiros. Passamos pela igreja, fizemos o tradicional registro
fotográfico e depois ganhamos as ruas da cidade, sempre sob os
olhares atentos e palavras de incentivo dos populares.
Passamos pelo pórtico de
entrada da cidade, logo em seguida abandonamos o asfalto e seguimos
pela RN 023, um estradão com muito arisco. Depois de pedalar em
trecho relativamente plano iniciamos o início da subida da serra da
Gameleira e ali já foi um prenúncio do que nos aguardava. Chegando
ao alto seguimos até o Olheiro da Gameleira, aproveitando para
visitar uma formação rochosa bastante interessante, parecendo ter
sido cortada com um facão. Apesar de pouca água nessa época o
local é muito bonito e compensa uma visitação.
Seguimos pela comunidade de
Salgadinho e pedalamos por trechos muito íngremes e com bastante
erosão, obrigando-nos a descer das bicicletas e empurrar nas
subidas. De um lado e de outro a vegetação seca impera e o calor é
infernal. Nesse trecho o apoio não nos acompanhou e a solidariedade
do grupo revelou-se com a divisão dos lanches que cada um levava.
Por volta das 13h30min chegamos
no ponto de apoio no pé da Serra do Tigre e ali já nos aguardava
Luis Shortinho e João Forever, com muita fruta, água e gelo. A
hospitalidade dos moradores é incrível e retribuímos com muita
simpatia, consertando a bicicleta de uma das crianças da casa.
Depois de abastecidos iniciamos
a subida da Serra do Tigre e somente então percebemos o motivo do
nome: a subida é voraz e por muito pouco não engoliu Shirley. Nesse
ponto destaco a presença de Ponciano, apoiando com motocicleta e
levando gelo e água. O homem manteve-se na vassoura e sua presença
foi substancial para que todos chegassem ao topo.
Vencido o Tigre iniciamos a
descida da Serra das Cachorras, único local do percurso em que
avistamos alguns coqueiros.
A tarde já nos deixava quando
chegamos no Espinheiro e um pneu furou bem em frente da residência
de uma família extremamente simpática. Sem ninguém pedir nos
ofereceram água e café, tendo ainda insistido para jantarmos. Nesse
ponto teve ciclista com vontade de quebrar alguma coisa da bicicleta
somente para ter um pretexto de ficar mais um pouco no lugar.
Já era noite quando alcançamos
a RN 203 e finalmente chegamos ao nosso primeiro local de pouso, uma
escola na comunidade de Ingá de Santa Luzia. Ali já encontramos a
equipe de apoio, com um jantar farto e delicioso. Muito agradável
foi a presença de pessoas da comunidade, principalmente as crianças
muito solícitas e interessadas em pedalar conosco. Nos acomodamos e
dormimos o sono merecido.
2º DIA: INGÁ DE SANTA
LUZIA-INGÁ DE RAUL CAPITÃO.
O galo cantou cedinho e nos
acordou. Tratamos de fazer os preparativos para continuar o pedal e
em pouco tempo a inexorável equipe de apoio chegou com o café da
manhã. Alimentados seguimos no rumo do Cruzeiro de Padre Cícero,
mas antes passamos na casa de um membro da comunidade para fazermos
um registro fotográfico.
A subida do Cruzeiro é
avassaladora. São aproximadamente 3,5 Km em terreno com muitas
pedrinhas soltas, fazendo a bicicleta derrapar. Existem alguns pontos
de descanso, permitindo assim que todos subissem até o topo,
inclusive uma criança da comunidade em sua bicicleta sem qualquer
marcha.
Descemos o Cruzeiro e seguimos
até a Fazenda Novo Mundo, um lugar muito bonito no meio do nada.
Nesse ponto nos despedimos de Gaúcho, ciclista-mirim do Ingá de
Santa Luzia que nos acompanhou até aquele trecho. Novamente o apoio
se fez presente e foi um verdadeiro bálsamo.
Iniciamos a subida da serra da
Torre do Celular e lá no topo avistamos o Pico do Cabugi. Dali pra
frente foi muita descida e terreno relativamente plano, exceto por um
singletrack acrescentado por André, ofertando mais adrenalina ao
trajeto, de forma que chegamos ainda com o dia claro no Ingá de Raul
Capitão. Na fazenda nos deparamos com uma linda paisagem e um
casarão antigo, com enorme alpendre e com cheiro de muitas
histórias. Aqui já não contamos com a estrutura da noite anterior
e a dormida foi no alpendre, tendo sido possível o banho em razão
do banheiro improvisado por André Medeiros. A noite deitamos no
alpendre e ficamos jogamos conversa fora, esperando o sono chegar.
3º DIA: INGÁ DO RAUL
CAPITÃO-SÃO TOMÉ.
Acordamos eufóricos e com a
expectativa de já termos passado pelos trechos mais difíceis.
Tomamos café ao mesmo tempo em que os animais da fazenda vinham
tomar água. Percebi a organização dos bichos, um cedendo lugar ao
outro e permitindo que todos fossem saciados.
Seguimos o trajeto e passamos
pelo açude Pica Pau, único ainda com considerável quantidade de
água. Nossa próxima parada foi na Fazenda Barra Nova e nesse ponto
quem assumiu a dianteira do grupo foi seu Francisco, nos conduzindo
por um singletrack arretado, recheado de urtigas. Foi sem dúvida o
trecho efetuado com maior velocidade.
Em pouco tempo chegamos em
Barcelona e dali seguimos para o terreiro da casa de seu Francisco,
onde já nos esperavam membros de sua família e a equipe de apoio.
Aqui foi facultado subir a Torre da Embratel e grande parte do grupo
optou por subir, enquanto os demais ficaram aguardando para juntos
fazermos o trecho final. Por volta das 14h30min entramos em São
Tomé, sendo acompanhados por ciclistas da cidade que vieram ao nosso
encontro. Fizemos uma rápida volta na cidade e fomos ao Centro de
Idosos para o almoço, confraternização, registros fotográficos e
sorteio de bicicletas.
Por volta das 17h30min cheguei
em casa bastante cansado, porém satisfeito. Foi mais uma experiência
incrível e serviu para tonificar em mim um sentimento: somos muito
ricos, pois passamos por locais em que água é algo de difícil
acesso, mas mesmo assim as pessoas ainda nos ofereceram o pouco que
tinham.
Obrigado ao bom Deus por nos
dar saúde e disposição para enfrentarmos os desafios. Obrigado
André Medeiros por nos incluir em seu sonho. Obrigado aos anjos do
apoio, sem os quais a Volta de Santumé, ao menos para mim, não
seria possível. Obrigado a todos que nos acolheram com um sorriso e
responderam de pronto ao nosso cumprimento: “Louvado seja Nosso
Senhor Jesus Cristo...Para sempre seja louvado”.
RESENHAS - “MEI QUE OF”.
É claro que passar três dias
dentro do mato com um grupo de pessoas gera muitas resenhas. Algumas
foram registradas em nosso HD cerebral e outras foram frutos do Livro
Preto do Dublê de Repórter, Fabiano Silva. Vamos então a alguns
registros:
PROVA DE FOGO:
No dia antecedente a nossa
saída dormimos em São Tomé e para tanto nos foi destinado um
apartamento no centro da cidade. Para as mulheres (Shirley e Alícia)
foi reservada uma suíte nos fundos do apartamento, de forma que
tiveram suas integridades nasais e auditivas preservadas. Para os
homens, entretanto, restaram os demais cômodos do imóvel, sendo a
concentração da maioria na sala. O problema é que não nos
avisaram de uma apresentação de duas orquestras, uma peidônica e
outra roncônica, com concertos harmônicos e simultâneos. Para que
se tenha uma ideia os peidos e os roncos eram tão altos ao ponto de
inibir o locutor do rodeio presente na cidade, bem como de espantar
algumas muriçocas ali presentes. Teve ciclista que amanheceu o dia
com a venta inflamada, de tanto peido inalado. Há quem diga que esse
é o grande desafio da Volta de Santumé, pois quem passa pelas
orquestras está capacitado a subir qualquer serra no calor. Vou
deixar em segredo os nomes dos maestros, mas quem desejar saber
enviarei por e-mail.
CSI SANTUMÉ:
Na Serra das Cachorras alguém
encontrou um bico de camel back no chão. Perguntaram se alguém
tinha perdido, mas ninguém respondeu nada. Quando já pensavam em
deixar o bico no mesmo lugar eis que surgiu a equipe CSI Santumé e
tratou de recolher o objeto sob o seguinte argumento: vamos enviar
para o laboratório e identificar pela saliva o DNA do proprietário.
Soube que o objeto continua no laboratório, mas até o momento
somente identificaram muito sal.
NOVOS CONTRATADOS DO DNIT:
A Volta de Santumé também
serve para descobrir talentos e encaminhar os participantes para o
mercado de trabalho. Foi o caso de Wildson que recebeu uma proposta
de emprego do DNIT para trabalhar na reformulação de curvas nas
diversas estrada do Brasil. Explico: o rapaz quando descia as
ladeiras mudava todo o traçado das curvas, passando na maioria das
vezes por dentro do mato. Mais ele não ficou sozinho na tarefa,
sendo acompanhado por Flávio (Bombadão), abrindo uma nova estrada e
por Bobil ao empenar o guidão no momento da curva.
O OPERADOR DE RÁDIO
REVELAÇÃO:
Em determinado trecho foi
oferecido um rádio de comunicação a seu Francisco, pois ele estava
sempre na vassoura ou na frente e é um profundo conhecedor das
trilhas da região. No início o homem ficou meio acanhado e não
falava nada. Com o tempo foi provocado pelos demais operadores e
desembestou a modular, de forma que a todo tempo se ouvia seu
Francisco dizer: “Benito, difurcação na direita...André, aqui
atrás a turma tá toda bem...Benito, cuidado que aí na frente tem
uma areia fofa, depois dessa vareda”. Dizem que a ANATEL está
bastante interessada em conhecer seu Francisco para ministrar um
curso para os novos radioamadores.
PRA ONDE TU VAI VALENTE:
No dia que antecedeu à volta
de Santumé o ciclista Vitor foi destaque empinando sua bike nas ruas
da cidade. O menino era pura energia e pelo jeito ia subir as serras
com uma roda só. Quando começou a volta propriamente dita, logo na
Serra da Gameleira, veio a notícia no rádio: “acabaram-se as
pilhas de Vitor e ele arregou no carro de apoio”. Soube, porém,
que ele voltou e dormiu na cidade, tendo passado a noite carregando
as pilhas na companhia de outros caboclos, retornando no dia seguinte
e arrebentando.
TOME NO FOREVER:
Não é nada disso que você
está pensando, é do energético que estou falando. Um dos
apoiadores do evento foi João, tendo levado um significativo estoque
do energético FAB da Forever. Pois bem, o produto foi testado e
aprovado, de forma que os cabras tomavam uma latinha do bicho e
subiam as serras na maior potência. Quem estava distante só
escutava o grito: “Chaaaaaama no Forever!!!!!”.
ADUBANDO A TERRA:
No pouso do Ingá do Rau não
tinha banheiro disponível, de forma que o número 2 teve que ser
efetuado no velho estilo dos cangaceiros. Foi muito comum ver de vez
em quando um ciclista seguindo no rumo do mato, levando consigo um
facão na mão e um rolo de papel higiênico na outra. Teve um cabra
que resolveu aproveitar a escuridão pra fazer sua necessidade e
procurou um local estratégico, perto de uma casa abandonada. Estava
lá o cidadão fazendo a sua obra, quando de repente ver
aproximando-se uma luz de uma lanterna. Deixou chegar mais perto e
quando viu que era mais um ciclista cagão, disse: “amigo, se você
não quiser pisar em bosta mude sua direção”. O outro entendeu a
mensagem e foi cagar em outro lugar. Diz a lenda que no outro dia a
vegetação da fazenda amanheceu mais verde e o gado o tempo todo
pisoteava bosta de gente.
O FASTIO DO CABO:
Não é novidade pra ninguém a
força comilônica do Cabo Dantas. O homem é conhecido como
corrosivo e no Exército Brasileiro dirige uma forrageira. Pois bem,
quando anoiteceu e estávamos perto do Ingá de Santa Luzia, sem
almoçar, deu um rói-rói na barriga do Cabo e o homem tomou a
dianteira do grupo, chegando ao ponto de descanso com meia hora de
vantagem. Segundo uma fonte segura o cabra comeu num cocho daqueles
utilizado para alimentar gado.
LUIS SHORTINHO:
Após o pedal incorporamos uma nova peça ao vestuário do Rapadura Biker. Trata-se do short vermelho utilizado por Luis Faustino durante toda a Volta de Santumé. Diz a lenda que Verônica ao chegar em casa tentou lavar o short, mas não teve sucesso e somente resolveu com gasolina e uma caixa de fósforo.
Na noite de quinta-feira, aquela da apresentação das orquestras, alguns inquilinos do apartamento que somente conseguiram dormir às 03h00min da madrugada foram despertados às 03h40min pelo despertador do telefone celular do Sargento Josias. Acontece que o homem tinha tirado serviço naquela semana e colocou o aparelho para despertar durante a madrugada, garantindo assim a ronda no quarto de hora. A partir daquela noite ninguém mais quis dormir perto do Sargento e muitos ficaram à espreita, aguardando apenas uma oportunidade para fazer sumir o telefone despertador.
ALVORADA DO SARGENTO:
Na noite de quinta-feira, aquela da apresentação das orquestras, alguns inquilinos do apartamento que somente conseguiram dormir às 03h00min da madrugada foram despertados às 03h40min pelo despertador do telefone celular do Sargento Josias. Acontece que o homem tinha tirado serviço naquela semana e colocou o aparelho para despertar durante a madrugada, garantindo assim a ronda no quarto de hora. A partir daquela noite ninguém mais quis dormir perto do Sargento e muitos ficaram à espreita, aguardando apenas uma oportunidade para fazer sumir o telefone despertador.
O trajeto. |
Concentração. |
Olheiro da Gameleira. |
Lajedo da Gameleira. |
Luis Shortinho, |
O tigre e o caçador no pé da Serra do Tigre. |
Consertando a bicicleta de uma criança da comunidade. |
Preliminar. |
A bandeira do Rapadura. |
Pouso no Ingá de Santa Luzia. |
Pouso no Ingá de Raul. |
André também come bem. |
Com a representação de Bananeiras-PB. |
Escola que nos acolheu, |
No Padre Cícero. |
Com orgulho. |
Moto de apoio. |
Missão cumprida e comprida. |
Shirley flagrada em um momento de cansaço. |
Luis Shortinho e Franknildo. |
4 comentários:
Não estive presente nesse desafio, mas ao ler esse relato, consegui viajar entre as palavras. Parabéns!!
Showwwwwww, 2014 está ai, vamos que vamos.
muito boa a resenha da volta do santumé...
meu blog, meu gibi semanal de noticias ciclomundianas...
Tive a oportunidade de está presente, inclusive abrindo novos caminhos pelo percusso para os amigos que participarão nas próximas edições do pedal de Santumé. Confesso que de forma sintética e precisa, nosso narrador conseguiu explanar de maneira engraçada e descontraída a experiência vivida, atentando também para as "riquezas" que nos foram ofertadas. Foi algo indescritível e cheio de misturas pois nos envolvíamos a todo momento com novas sensações e experiências. Hoje não sei se teria a coragem de mais uma vez participar deste pedal, entretanto quando lembro do aprendizado, da força de vontade e da coletividade envolvida em todos os âmbitos deste sonho, me sinto atraído e viver tudo isso novamente. Parabéns família RB... :D
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