28/01/2015

BICICLETAS, CASTELOS E DINOSSAUROS: 5º DIA

QUEM É QUEM?
Álvaro: dinossauro importado de João Pessoa-PB. Depois de atravessar Cuba em uma bicicleta dobrável, achou pouco e trouxe na bagagem para o Pedal dos Castelos uma barraca, três tamboretes, 45 quilos de rapadura, uma churrasqueira e um violino, utilizado para sonorizar as noites nos alpendres.
Benilton Lima: dinossauro maluco que convenceu outros malucos a viajarem com ele. Movido pelo complexo vitamínico Cerveja, é pós-doutor pela Universidade da Rua do Boi Choco e seu estudo assevera que uma cerveja gelada não faz mal a ninguém.
Claudia Celi: com tanto homem para casar na vida ela optou logo pelo maluco acima. Resolveu vir por sua conta e risco, provando mais uma vez que não existe diferença de gênero quando o assunto é pedalar. Merece um dez estrelado e até hoje (28/01) ainda tá com os couros quentes.
Flavio: Diretor do DDGRP (Departamento de Gambiarras do Rapadura Biker) e também Presidente-Sócio Fundador do Pedal Puxado, o mestre Cabelo criou especialmente para a viagem um bagageiro 3D, com wi-fi, máquina de cortar cabelo e com capacidade para armazenar comida por quinze anos.
Moab: Depois de pedalar pela República Tcheca e desbravar as trilhas mais inóspitas da região de São Rafael-RN, o homem veio ao Pedal dos Castelos munido de uma cadernetinha em que anotava todas suas despesas. No primeiro dia o seu orçamento estorou, pois tomou de uma lapada só 3 jarras de suco de laranja. É um verdadeiro dinossauro, quando o assunto é comer.
Neto Palhares: Para não fugir ao regramento, ele novamente beijou o solo sagrado e consagrou-se mais uma vez como Papa do Rapadura Biker. Optou por não levar bagageiro, preferindo um paraquedas, que dessa vez não abriu em tempo hábil.
Serginho: Conhecido como o Rei das Minhocas, ele pedalou o tempo todo sorrindo. Volta e meia o celular dele apitava e ele sorria. Não se sabe se era recado de Suzy e Laura ou se foi alguma carrada de adubo vendida.
Uilamy: O Rei das Montanhas. Não desligou o Strava nem para ir ao banheiro. Subiu e desceu serra como se tivesse saboreando um sorvete de ameixa em Caicó.

5º DIA: POMBAL-PB/VALE DOS DINOSSAUROS (SOUSA-PB) - 62 Km.

"Ei, dor
Eu não te escuto mais
Você não me leva a nada
Ei, medo
Eu não te escuto mais
Você não me leva a nada

E se quiser saber
Pra onde eu vou
Pra onde tenha Sol
É pra lá que eu vou

E se quiser saber
Pra onde eu vou
Pra onde tenha Sol
É pra lá que eu vou..."


A música acima interpretada pelo Jota Quest nos acompanhou por toda viagem e retrata muito bem nossa aventura.
Costumo dizer que numa viagem de cicloturismo o primeiro e o último dia são os mais interessantes. O primeiro por ser o dia mais aguardado, com maior carga de ansiedade e também uma espécie de termômetro para os demais. O último, pelo fato de que nossas baterias parecem ganhar força, diante da quase certeza de atingir o objetivo almejado.
Trajeto do Quinto Dia.

Propositalmente deixei o menor trajeto para o último dia, servindo também como estímulo para quem estivesse muito cansado ou com pretensões de desistir.
Tomamos café a manhã nas companhias de Mário Sérgio, Fátima e Dona Socorro. Tinha de tudo, inclusive morangos e uvas em pleno sertão paraibano. Agradecemos a acolhida, nos despedimos e seguimos em frente na BR 230, a Transamazônica. Não demorou e já começou o intenso tráfego de caminhões, obrigando-nos a redobrar a atenção e permanecer no acostamento, em alguns trechos aparentemente em obras. É interessante como nos deparamos com dois tipos de motoristas: os que vibram com nossa viagem, acenando e buzinando com alegria; e os que parecem incomodados com nossa felicidade, buzinando com rispidez e tom ameaçador. Para todos desejamos boa viagem.
Despedida em Pombal.

Pedalamos 40 Km sem adentrar qualquer cidade, até que finalmente chegamos em um posto de combustíveis na entrada de Aparecida-PB, com água de côco, sorvetes e lanches.
Não demorou e começamos a ver os prédios anunciando a cidade de Sousa. Em pouco tempo nos agrupamos na placa indicando o Vale dos Dinossauros. Aqui abro um parêntese para agradecer a Odete, ciclista residente em João Pessoa-PB, que nos colocou em contato com Jorginho e Bruno, ciclistas de Sousa que se colocaram à disposição para nos receber e guiar até o Vale dos Dinossauros, mas infelizmente não deu certo, não por culpa deles, mas por opção nossa, pois preferimos não dar trabalho e voltar mais cedo. Em nome do grupo, muito obrigado!
Bandeira do Rapadura chegando em Sousa-PB.

Atravessamos toda cidade de Sousa e seguimos na PB 391. Não demorou e avistamos a placa indicativa do nosso destino final: O Vale dos Dinossauros. Logo na entrada fomos acolhidos por dois vendedores de lembrancinhas e água: Tico e Chico do Vale, muito simpáticos e receptivos.
Posição Rapadura.

Antes de adentrar uma placa chamou a nossa atenção: um investimento de aproximadamente três milhões do Governo do Estado na revitalização do lugar. Observamos que as obras parecem continuar. No início existe um museu, inclusive com guias para acompanhar na visitação ao Vale, informação essa que somente ficamos sabendo depois, por intermédio de um segurança muito atencioso.
Deretorassauro.

Beniltonssauro.

Uiluilssauro

Cabelossauro.

Minhocassauro.

A estrutura física parece pronta para receber visitantes, entretanto, foi unânime a falta de informações humanas, bem como de um ponto de apoio lá dentro, principalmente para venda de água, pois o calor é intenso.
Toda visitação é feita em passarelas de madeiras, das quais você visualiza os fósseis contendo as famosas "pegadas dos dinossauros". Com muita tristeza tomamos conhecimento que alguns fósseis, os maiores, foram levados para outros países.
Passarelas de visitação.

Já passava do meio dia e por mais interessante que seja o lugar, o calor e o cansaço da viagem não nos permitiram ficar mais tempo. Fizemos todos os registros fotográficos e pedalamos até um restaurante, cujo proprietário nos franqueou o banho. Quem compareceu para nos visitar foi Paulinha, uma ex-aluna de Serginho, hoje atuando na vizinha cidade de Cajazeiras-PB. Ela achou pouco nosso trajeto e ainda queria que seguissemos até lá para um lanche. Agradecemos e deixamos para outra oportunidade.
Doutora Paulinha e Claudia.

Almoçamos e ficamos prontos aguardando Wagner para embarcarmos nossas bicicletas e corpos cansados no carro, o que aconteceu em pouco tempo, tudo conforme planejado.
Esfriando o quengo.

A van de Wagner e o reboque novo.

No trajeto de volta todos olhavam admirados os caminhos percorridos de bicicleta. Cada curva e sombra de árvore foi apontado como se fosse um velho conhecido. Ali, no conforto do veículo é que percebemos o quantos fomos ousados. Valeu Rapaduras, obrigados pelas companhias.
Agora vai.


QUEM É QUEM FOTOGRÁFICO:




INFORMAÇÕES ÚTEIS:
- A visitação ao Vale dos Dinossauros é gratuita e o funcionamento é no período matutino e vespertino;
- Para transporte de ciclistas e bicicletas (reboque para até 22): Wagner - (84)8806-6973,



23/01/2015

BICICLETAS, CASTELOS E DINOSSAUROS: 4º DIA.

4º DIA: CAICÓ-RN/POMBAL-PB - 98 Km.

Trajeto do dia.

Ao contrário do calor do dia, a noite em Caicó é agradável. Após o jantar recebemos de Neto Palhares a notícia da sua necessidade de retorno a Natal, por motivos pessoais. Ficamos tristes, mas respeitamos a vontade do colega.
Acordamos cedinho e partimos para o café da manhã no Restaurante Sassá & Santana, que abre às 05h00min e tem um cardápio bastante variado. Deixamos Neto na Estação Rodoviária e seguimos pela BR 427, novamente em busca do chão paraibano. O acostamento é muito bom e a pedalada rendeu bem até Serra Negra do Norte. Antes da cidade tem um posto de combustíveis com água gelada, uma lanchonete e atendimento muito bom.
Restaurante Sassá Mutema em Caicó.

Passamos por fora de Serra Negra do Norte, mas foi possível observar, aparentemente, tratar-se de uma cidade bem cuidada. Tinha chovido nos dias anteriores e a terra ainda estava úmida e a vegetação com um verde intenso. Foi seguramente um dos trechos mais tranquilos de pedalar. 
Trecho antes de Serra Negra do Norte.

Chegamos ao Km 0 e uma placa indicava a Divisa entre os Estados do Rio Grande do Norte e da Paraiba. Após uns 5 Km encontramos um garoto na estrada e perguntamos se existia alguma comunidade próxima e se lá existia uma bodega. A resposta do menino não foi muito encorajadora: "não é muito perto não". De imediato captei a mensagem e tive a certeza que ainda iríamos pedalar um bom pedaço até chegar a um ponto de apoio. De fato, somente após quase 10 Km chegamos a uma comunidade chamada Ipueira e alí encontramos um Mercadinho (São Sebastião), cujos proprietários foram bastante atenciosos. O lugar tem de tudo, inclusive câmara de ar para bicicleta aro 26.
Mercadinho em Ipueira.

Com Bastos, proprietário do lugar.

Saímos de Ipueira e o sol retomou o seu lugar com valentia. Quanto mais nos aproximávamos de Pombal, mas quente ficava e a seca começou a mostrar sua cara. Novamente ficamos à mercê de uma boa sombra, coisa muito difícil de encontrar. Para nossa sorte achamos uma palhoça na beira da estrada e ali "esfriamos" um pouco o corpo. O calor era tão medonho que tiramos nossos capacetes e bonés, o que levou Claudia Celi a esquecer seu capacete pendurado no abrigo de palha, sendo necessário Serginho voltar uns 3 Km para recuperar o danado.
Foi aqui que Claudia esqueceu o capacete.

Quando faltavam uns 5 Km para chegar em Pombal fiz uma ligação para Mário Sérgio, nosso anfitrião na cidade, tendo ele informado que um ciclista pombalense iria nos recepcionar na entrada da cidade e nos guiaria até um restaurante. Nesse momento já passava das 13h00min e o sol estava impiedoso. Fiquei curioso para saber qual ciclista teria coragem de vir nos recepcionar naquela "lua". Assim que atingimos a zona urbana já avistamos um ciclista solitário, todo paramentado, vindo ao nosso encontro. Apresentou-se pelo nome de Gildeci, mas conhecido por Deci. Encaminhou o grupo até o centro da cidade, até o restaurante de Fátima, esposa de Mário Sérgio, local em que fizemos uma excelente refeição e fomos recebidos com extrema simpatia. Após o almoço fui com Deci procurar uma borracharia, pois o pneu traseiro da minha bicicleta já tinha furado quatro vezes. Na borracharia o profissional deu três diagnósticos, mas o pneu continuava vazando. Depois de uns quarenta minutos ele concluiu que era a "valva". Nesse momento resolvi ir ao encontro do pessoal, pois já estavam apreensivos com minha demora. Quando cheguei cada um me olhava com uma cara mais feia que a outra. E olhe que já estavam alimentados!
Novamente o nosso guia Deci nos conduziu pelas ruas da cidade, levando-nos até a residência de Mário Sérgio, onde já estavam Fátima e sua sogra, Dona Socorro (mãe do nosso falecido colega Joaquim Carneiro e avó de Arthur Carneiro), uma senhora com uma energia muito intensa, um exemplo de vida. Já foi nos deixando à vontade e fez questão de colocar um capacete para sair na foto.
Dona Socorro: simpatia em pessoa.

O calor de Pombal é algo impossível de relatar com palavras. As folhas das árvores parecem petrificadas e um bafo quente parece vir de todas as direções. Já passei por muitos locais quentes, mas igual aquele ainda não tinha visto. Foi no meio dessa agonia que surgiu Mário Sérgio com um proposta irrecusável: conhecer a Gleba da família e tomar um banho nas águas geladinhas do rio Pombal ou Piancó. Nossos olhos brilharam com aquela notícia e sem hesitar embarcamos no carro de Mário e seguimos no rumo da Gleba, antes porém, compramos algumas cervejinhas para dissipar o calor e fomos buscar Deci, que já estava tomado banho e sem as roupas de ciclista.
Conhecemos rapidamente a Gleba e automaticamente seguimos na direção do rio, com águas cristalinas e muito convidativas. Entramos e ali ficamos, ouvindo as estórias de Mário Sérgio e Deci, este um verdadeiro comediante de "Stand Up", contando "causos" engraçadíssimos, todos, segundo ele, "reais e verdadeiros". Falou de tudo: viagens de bicicleta, aventuras com motocicletas, caximblema, peidos (notas falsas), figuras folclóricas de Pombal e, principalmente, suas experiências na época que trabalhava na Promotoria de Justiça. Contava uma estória atrás da outra, com um jeito peculiar e performático, de forma que esquecemos as agruras do dia. Foi seguramente um dos melhores momentos de nossa viagem.
Santo banho de rio.

Quando finalmente saímos do rio e fomos nos secar no alpendre da casa, eis que Dona Socorro nos reservava uma surpresa: tinha preparado uma panela com um tira gosto delicioso, daqueles que você lambe o fundo da panela. Ficamos no alpendre ouvindo a prosa boa até anoitecer.
Não bastasse a tarde maravilhosa, o povo ainda ofereceu jantar e mais uma vez agradecemos ao bom Deus as amizades boas que temos nessa vida. Enchemos o bucho e fomos dormir no luxo do ar-condicionado. O cansaço era tão grande que o sono chegou rapidinho.



22/01/2015

BICICLETAS, CASTELOS E DINOSSAUROS: 3º DIA.

3º DIA: CASTELO DE ENGADY (CAICÓ-RN) - 70 Km.

Trajeto do terceiro dia.


Depois de um dia intenso e com a impossibilidade de visitação ao Castelo de Bivar no dia marcado, pois chegamos somente no período noturno, agendamos a visita para a manhã do terceiro dia, logo após o término do café da manhã.
Deixamos a Pousada em Carnauba dos Dantas e seguimos de bicicletas até o Castelo de Bivar, localizado cerca de 2,5 Km na saída para Picuí-PB. Lá chegando fomos recepcionados por Adalberto, que gentilmente abriu as portas do lugar e nos deixou bastante à vontade para fotos e reconhecimento.
O Castelo está em obras e soubemos que o proprietário pretende morar no lugar. A cama utilizada por Marcos Palmeira e Flávia Alessandra na célebre cena do filme "O homem que desafiou o diabo", em que a Mãe de Pantanha é "atingida" por um pênis de rapadura ladinamente esculpido por Ojuara, está desmontada e encostada em um dos cômodos, mas continua imponente com seu tecido encarnado. Uma novidade é uma banheira em forma de coração, que foi invadida por nós para um "retrato".
Rapaduras no Castelo de Bivar com nosso guia Adalberto,

Na banheira.

Deixando o Castelo.

A localização do Castelo é muito boa, permitindo uma visão do Monte do Galo, da cidade e de toda região no entorno. No meu caso e de Cláudia Celi foi a segunda visita, mas continuou sendo muito proveitosa.
Olhamos para o relógio e percebemos que já se aproximava das 09h00min. Resolvemos encarar a estrada, pois apesar de apenas 70 Km de asfalto, tínhamos a consciência do trecho inóspito entre Jardim do Seridó e Caicó, sem qualquer ponto de apoio ou sequer sombra. Estávamos também ressabiados com as altas temperaturas dos dias anteriores.
Assim que entramos em Carnauba dos Dantas Cláudia Celi parou em uma loja para apreciar uma loja de arte em pedras e, para nossa surpresa, fomos abordados por um rapaz (Luquinha), parente da proprietária do estabelecimento, que também é ciclista e já era sabedor da nossa passagem pela cidade, oferecendo seus préstimos. Pena que estávamos com pressa, mas ficamos felizes com a acolhida. Fizemos o devido registro fotográfico e tomamos rumo.
Com Luquinha, ciclista de Carnauba dos Dantas.

Pedalamos alguns metros e eis que ouvimos um barulho de queda. Foi tudo muito rápido e o nosso colega Neto Palhares foi ao chão. Surgiram duas versões para seu baque: a primeira diz que ele olhava para o Monte do Galo e se deixou levar pela energia do lugar, esquecendo de olhar adiante; a segunda, mais controvertida, diz que ele olhava para uma pombinha pousada no braço de uma cadeira na calçada de uma casa. O fato é que o motivo da queda não interessa, mas novamente podemos dizer "Habemus Papam Netus".
Passado o beijo em solo sagrado Carnaubense, saímos da cidade e não demorou chegamos em um posto de combustíveis já na Serra da Rajada e ali fizemos o devido abastecimento de água.
Chegamos em Jardim do Seridó e fomos direto para um mercadinho/lanchonete nas imediações da Rodoviária. Ali tomamos água de côco, refrigerante, suco e comemos uma raspa de queijo de manteiga, para contrabalancear.
No "pingo da meio dia" estávamos novamente na estrada e o Seridó desertificado mostrou sua cara com força. O bafo era tão quente que o "cuspo" sequer chegava ao chão. A vegetação de um lado e do outro extremamente seca. Nenhuma sombra, nem de jumento. Mais adiante alguém modulou no rádio a existência de uma sombra, que era na verdade as ruínas de uma parada de ônibus em forma de jerimun. O local em risco de queda, mas não tínhamos outra opção a não ser permanecer ali espremidos, aguardando a temperatura corporal amenizar.
Quanto mais nos aproximávamos de Caicó, mais quente ficava e finalmente começamos a avistar os primeiros prédios e, um pouco mais adiante o Itans, seco de dar pena.
Já passava das 14h00min e fomos direto para o Restaurante Ponto Certo, sabedores do ar-condicionado existente no local e da excelente comida ali servida. A escolha foi perfeita, de modo que ficamos lá e somente saímos na vassoura. Registro a simpatia do casal proprietário, inclusive concedendo um desconto especial para os cicloturistas.
Com Claudio e esposa, proprietários do Ponto Certo.

Já passava das 15h00min quando adentramos na residência de Uilamy, local de pouso da noite. O alpendre da casa tornou-se nosso quartel general e ali ficamos resenhando sobre os acontecimentos do dia e planejando nossos próximos passo. Resolvemos então visitar o Castelo de Engady de mototáxi e assim fizemos, saindo no final da tarde com destino ao local.
Até então nossas visitações aos Castelos foram todas positivas, mas o Castelo de Engady revelou-se como uma exceção. O lugar encontra-se abandonado, vandalizado e passando por um processo gradativo de destruição. A área é enorme, os muros estão derrubados e percebe-se claramente que ali não ficará pedra sobre pedra. O mais triste de tudo é que de acordo com um vídeo existente na internet (https://www.youtube.com/watch?v=AiPloWj5rtA) a coisa é mais séria do que parece, pois o Castelo teria sido vendido por um padre ao Governo do Estado do Rio Grande, tornando-se, portanto, patrimônio público dilapidado. Não consegui sequer passar muito tempo no lugar, senti-me mal e chamei os colegas para sair dalí. Para meu alento descobri que existe uma Ação Civil Pública em andamento (http://blog.tribunadonorte.com.br/panoramapolitico/105797) e vou me empenhar em levar o tema ao novo Presidente da Fundação José Augusto.
Sem comentários.

Sem comentários II.

Sem comentários III.

Depois da tristeza do Castelo fomos acalmar um pouco na Sorveteria do Zezão e quando a noite chegou tivemos oportunidade de degustar a deliciosa culinária seridoense, sempre guiados por Uila.
O alpendre da casa foi o local preferido para dormida e os únicos barulhos ouvidos no repouso noturno eram dos galhos da laranjeira no telhado e alguns flatos com odores de ameixa, manga e leite.

INFORMAÇÕES ÚTEIS:

- Nossa visita ao Castelo de Bivar foi devida a interveniência de Sebastião da Terral e sua irmã Régia;
- Em Caicó não deixe de visitar o Restaurante Ponto Certo, a Sorveteria do Zezão e tomar café da manhã em Sassá e Santana (Sassá Mutema).



20/01/2015

BICICLETAS, CASTELOS E DINOSSAUROS: 2º DIA.

2º DIA: CASTELO DE BIVAR (CARNAUBA DOS DANTAS-RN) E CASTELO DA CARNE DE SOL (PICUÍ-PB) - 112 Km.

Trajeto do segundo dia.

Acordamos às 06h30min e iniciamos os preparativos para mais um dia de pedalada. As expectativas eram muitas, pois teríamos inicialmente pela frente 24 Km de trilha descendo do Castelo de Zé dos Montes até Santa Cruz-RN.
Tomamos café, nos despedimos e iniciamos o trajeto, sempre com o visual do Castelo de Zé dos Montes. No início foram somente descidas e o clima extremamente agradável tornava a pedalada mais agradável ainda. Passamos uma porteira, chegamos a uma comunidade e iniciamos uma sequência de subidas intensas, até que chegamos em uma bifurcação: de um lado Pau de Leite e do outro "Cravilha". Mediante protesto deixamos o Pau de Leite de lado e seguimos por uma estrada que tinha sido recentemente "maquiada" com uma "patrol". Em pouco tempo avistamos de longe a estátua de Santa Rita de Cássia, o que de certa forma foi um alento.
Trilha descendo de Sítio Novo.

Após duas horas de pedal chegamos em Furnas e passamos por cima da parede do Açude Inharé, com volume de água bastante baixo. Alcançamos o asfalto da BR 226, reunimos o grupo em uma sombra e seguimos para a Panificadora Seridó, aproveitando para hidratar com um delicioso açaí, comer bolo da moça e degustar algumas "rolas doces" remanescentes do dia anterior, pois a fornada diária ainda não estava pronta.
Barragem em Santa Cruz.
Comendo rola doce.

Deixamos Santa Cruz já passava das 11h00min e achávamos que os 30 Km até Coronel Ezequiel-RN seria de fácil superação. Lêdo engado. Assim que deixamos a zona urbana percebemos que a parada seria dura. Casas abandonadas na beira da estrada, vegetação extremamente seca e um calor típico de padaria do inferno. Pra piorar um pouco mais, começou uma série de subidas e quando demos conta estávamos no meio de uma serra monstra, cujo fim parecia não existir. Suficiente dizer que a única sombra encontrada no caminho foi a de um jumento magro que insistia em ficar no meio da pista, sendo necessário tangê-lo para evitar um acidente.
A sombra do jumento.

Quando estávamos no limite das forças e com a água já acabando chega a notícia no rádio, na voz de Uila: "estou a uns 7 Km de Coronel Ezequiel, em uma comunidade chamada Cachoeira e aqui tem uma bodega com picolé, coca-cola gelada e kitut". Tais palavras soaram como uma ducha no deserto. Lá chegando fomos excepcionalmente bem recebidos, chegando ao ponto da dona do estabelecimento ofertar uma cumbuca com caldo de feijão, buscada diretamente da panela do almoço da família. É bem verdade que a senhora do lugar cedeu ao meu argumento, quando disse a ela: "minha esposa tá grávida de um dia, desejando como nunca um caldinho de feijão". Sorrindo, ela trouxe o feijão e ainda fez questão de oferecer a água gelada do uso da família, pois a água mineral vendida não estava "geladinha". A energia do lugar era muito boa e a sombra melhor ainda, de modo que ficamos alí por uns quarenta e cinco minutos.
Parada em Cachoeira.

Continuamos subindo e finalmente entramos em Coronel Ezequiel-RN. O calor continuava e paramos em uma lanchonete, na qual fomos gentilmente atendidos por um rapaz, inclusive fazendo questão de divulgar um "miiiiiiiiiiiiiix de sucos" existente no estabelecimento. Sentamos na calçada e fomos interpelados por moradores do lugar curiosos para saber o que fazíamos ali.
Chegando em Coronel Ezequiel.

Saímos de Coronel Ezequiel e enfrentamos novamente trecho de trilha, desta feita também no alto da chã, entre cajueiros e corredores. A temperatura baixou e chegamos na Vila de Santa Luzia de Picuí por volta das 16h30min, seguindo direto até um mercadinho, sendo novamente muito bem atendidos. Na Vila encontramos um ciclista chamado "Neném", montado em uma bicicleta Brasiliana vermelha e branca, bem arrumadinha. Fizemos uma proposta e o homem ficou balançado para vender. Resolvemos deixar quieto, pois não tínhamos espaço mais pra nada.
Mercadinho na Vila de Santa Luzia.
Nenem e sua Brasiliana.

Quatorze Km nos separavam de Picuí-PB e sabíamos que os sete últimos seriam descendo. Anoiteceu e estávamos equipados com nosso kit iluminação. Quando já entrávamos na cidade ouvimos pelo rádio a orientação de uma "vala" no trajeto. Eu seguia na vassoura e Claudia Celi ia na minha frente. Passamos a tal da vala, mas logo adiante tinha uma curva com uma areia solta. Claudia estava empolgada, perdeu o equilíbrio e caiu, levantando rapidamente, não sendo possível sequer fazer um registro fotográfico ou em vídeo. Mais adiante informei da queda e ao ser indagada por Uila se estava tudo bem, ela respondeu com a célebre frase de Napoleão Bonaparte ao ser derrotado em Kubrik: "ce un pet pour ceux qui sont de merde", ou seja, "o que é um peido para quem está cagado".
Picuí.

Paramos em uma praça e deliberamos que a fome imperava e deveríamos procurar um restaurante, pois afinal estávamos na Terra da Carne de Sol. De um transeunte recebemos a indicação de um restaurante ambientado em um Castelo, cuja especialidade era a legítima carne de sol. A sugestão foi acatada de pronto e qual não foi nossa surpresa ao nos depararmos com um local maravilhoso, com atendimento excelente e comida deliciosa, sendo mais uma das agradáveis surpresas da viagem. O garçom (Luis) que nos atendeu foi extremamente profissional e o gerente da casa (Henrique) e sua namorada (Alini) foram extremamente simpáticos e juntos fizemos a tradicional foto na posição Rapadura Biker.
Jantar no Castelo da Carne de Sol.

Com a equipe do Castelo.

Restavam ainda 24 Km até Carnauba dos Dantas e recebemos péssimas notícias sobre a estrada, pois o asfalto estava totalmente deteriorado, sem falar no intenso tráfego de caminhões. Analisamos a situação e optamos por fretar uma F4000, seguindo em segurança até a Pousada, o que foi uma ótima escolha. Chegamos tão enfadados ao ponto de rejeitarmos utilizar a piscina do lugar.
Dormimos com a proteção do Monte do Galo.
A F4000 salvadora da noite.

INFORMAÇÕES ÚTEIS:

- O cicloturista que passar em Santa Cruz-RN deve visitar a Panificadora Seridó, com serviço de café da manhã, almoço, jantar e lanche;
-Em Picuí é parada obrigatória o Restaurante Carne de Sol do Picuí - Castelo da Carne de Sol, com atendimento e qualidade incríveis;
-Em Carnauba dos Dantas a opção de hospedagem é a Pousada Maria Bonita - Tel: (84)9729-0995.