28/05/2012

O Pedal da Perua 2012


Do Dicionário Aulete Digital surrupiamos as seguintes informações:


" (ra.pa.du.ra) . sf.  1  Bras.  Açúcar mascavo em forma de pequeno tijolo. 
  2  Rapadela. 

  3  Bot.  Árvore (Licania utilis) nativa da Amazônia; CARAIPÉ. 
 [F.: rapar + -dura.].e 
ntregar a rapadura.

1   Bras.   Pop.  Dar-se por vencido, entregar os pontos, desistir de um plano, de uma competição etc. 
2  Morrer. "


"(munganga) s. f. (Bras., Nordeste) || mogango; caretas; esgares; momices: "Quando me encontrassem com os dentes de fora, fazendo munganga ao sol... " (Graciliano Ramos, S. Bernardo, c. 3, p. 19, ed. 1938.)   F. cp. Mogango."

As definições acima refletem bem o espírito de dois dos grupos que pedalaram juntos no sábado passado. Acho que esse é o segredo de tudo que fazemos. De nada adianta iniciar o final de semana acordando cedinho, deixar a família em casa e sair para trilhar de bicicleta todo equipado se você não levar os principais componentes: disposição e alegria.
Que sejam bem vindos os Mungangas e quantos outros grupos quiserem pedalar conosco.

A ORIGEM DA PERUA:

Desde 2007 fazemos a trilha da linha ou trilha do maquinista, como preferem alguns ciclistas.
Em uma das oportunidades tivemos a participação do inoxidável Júnior Verona, o ciclista que é feito de uma material diferente, pois passa a semana inteira envolvido em trabalho intenso e estressante, toma umas e outras, mas quando comparece na trilha apresenta uma condição física invejável, deixando para trás muita gente que “treina” toda semana na Rota do Sol. Estávamos praticamente no meio da trilha, tínhamos atravessado uma pequena ponte sobre a linha férrea quando paramos em um pequeno sítio para descansar. Ali fomos recebidos por Totinha, um velho conhecido de Júnior Verona. Não demorou muito e Júnior identificou o lugar, reconhecendo logo em frente ao sítio de Totinha a granja do seu amigo Ricardo Mota. Desse dia em diante sempre que fazíamos a trilha da linha a granja era parada obrigatória, sempre sendo muito bem recebidos pelo proprietário ou por “Chico”, o gerente.
Conversando com Júnior na última quinta-feira observamos que nunca mais tínhamos feito a trilha da linha e ele disse que já estava na hora e ia falar com Chico para ele arrumar uma perua gorda para comermos na tradicional parada no local.
Combinamos que manteríamos em segredo a existência da perua e somente aqueles que resolvessem encarar integralmente a trilha descobririam o segredo da perua. Assim foi feito.

A TRILHA:

A intenção era formular um trajeto que contemplasse diversos tipos de terreno, fugindo o quanto possível do barulho e da fumaça dos automóveis. Idealizamos um percurso com o mínimo de subidas e sempre com áreas de sombra e possibilidade de retorno ao ponto de origem de forma mais rápida e pelo asfalto. Apesar de ser um trajeto de 51 Km, a grande maioria do grupo conseguiu cumpri-lo integralmente e, quem não o fez, foi provavelmente pelo fato de ter outro compromisso e teve que voltar mais cedo.
A concentração foi a partir das 06h30min em um posto de combustíveis localizado na BR 101, entrada da rodovia de acesso ao Município de Monte Alegre-RN. Ao chegar já me deparei com diversos carros de ciclistas e muita gente já ultimando os preparativos. Uma contagem rápida apontou aproximadamente cinquenta ciclistas, dentre integrantes do Rapadura Biker, Ciclistas de Natal, Mungangas Bike e ciclistas recém iniciados e ainda sem identificação com grupo específico.
Às 07h00min subi na bicicleta e fiz a chamada para o início. Não pedalei cinco metros e a corrente da bicicleta rompeu, tal qual tinha acontecido na quinta-feira à noite na Rota do Sol. Fiquei bastante chateado, pois tinha “resolvido” o problema no dia anterior, de forma que fiquei surpreso com a segunda quebra da corrente em menos de 72 horas, considerando que se trata de uma corrente adquirida há menos de dois meses, ou seja, é praticamente nova. Respirei fundo e fiquei pensando numa alternativa rápida, pois emendar a corrente estava fora de cogitação, já que tinha perdido a confiança naquele componente. Sugestões foram apresentadas, todas muito bem vindas, entretanto, optei por pegar emprestada a bicicleta de Montinny, pois sabia que ele estava prestes a chegar e que não tinha a intenção de fazer a trilha. Foi a melhor solução, pois além de resolver o meu problema, contribui para utilizar a bicicleta de Montinny na trilha, pois a conversa com que se acalenta menino na Rota do Sol é que o homem só pedala no asfalto.
Problema resolvido iniciamos o trajeto. De início seguimos pelo asfalto na RN 316. Pedalamos alguns quilômetros e logo entramos à esquerda, trilhando entre canaviais. Devido às chuvas recentes a terra estava ainda umedecida e o pedal fluiu bem, exceto por alguns trechos de areia fofa, que exigiram um pouco mais de esforço do ciclista. No caminho mais uma corrente quebrada, problema rapidamente resolvido entre os Mungangas. 
Não demorou e adentramos na cidade de São José do Mipibu e para nossa surpresa descobrimos que a “menor vila do mundo” está sendo demolida. No local uma placa de “vende-se”.
Após consultar o grupo resolvemos que não faríamos parada para café da manhã em São José, pois isso certamente iria atrasar o pedal. Atravessamos a principal rua da cidade e logo seguimos no rumo do Engenho Olho D´água, entrando novamente na trilha entre canaviais. Não demorou e chegamos ao Rio Mipibu, cuja travessia não deu muito trabalho.
Chegamos novamente ao asfalto, desta feita na RN 315. Pegamos à esquerda e fizemos a travessia da BR 101 no rumo de Georgino Avelino. Aqui tivemos um problema em um dos pneus da bicicleta de Job, mas um ciclista precavido andava com um tubo de "spray de pimenta", apertou no pneu e fomos embora. De acordo com a esposa de Job, após a injetada do spray o homem ficou turbinado, dando trabalho para acompanhá-lo. Após a comunidade de Golandim e antes de Currais voltamos à trilha, entrando à esquerda na placa indicativa da Fazenda Papary, seguindo no rumo de Nísia Floresta e ali tivemos a oportunidade de tomar banho de bica, lanchar e hidratar, cada um ao seu estilo. Antes de chegar em Nísia o pequeno grupo que vinha na retaguarda teve uma oportunidade ímpar. Pela primeira vez na vida viram o Lindão, vulgo "Alex Alcoforado", fazendo um trabalho de força. O homem nos levou à fazenda de um tio e ali tomamos a segunda melhor água de coco do mundo (a primeira é do coqueiro de Guilherme Lima). Cada coco tinha aproximadamente quatro litros de água, sendo suficiente dizer que Jac tomou água, encheu duas garrafinhas e ainda deu o "restinho" pra Moab terminar. Mas o melhor de tudo foi que os cocos foram partidos pelo Lindão, movido aos elogios da Linda. Dentre os presentes alguém fez um comentário que considerei equivocado: "se os Lindos fossem depender das habilidades do Lindão como abridor de cocos, estavam lascados". Pura intriga da oposição. Continue assim Lindão, mas cuidado pra não decepar os dedos.
Em Nísia Floresta duas ciclistas resolveram ficar na rodoviária, ao passo que o restante do grupo seguiu novamente pelo asfalto no rumo da BR 101. Nas imediações da fábrica de móveis rústicos  alguns ciclistas resolveram seguir pelo asfalto, ao passo que o grande grupo entrou à direita, passando no bairro mais antigo de São José de Mipibu, o Bairro Novo. Parece contraditório, mas é a pura verdade. Fomos margeando a linha do trem e ao chegarmos numa bifurcação as pilhas do GPS arriaram. Troquei os "elementos", mas na ânsia de continuar o pedal não esperei o aparelho atualizar e seguimos por aproximadamente cem metros fora da trilha. Percebi rapidamente e tomamos o rumo certo, não sem antes ouvir todo tipo de gracinha e por muito pouco não levei uma vaia.  O que me aliviou é que no grupo estava presente a maior navegadora/orientadora dos Ciclistas de Natal e do Rapadura Biker, Neide do Gás. Soube também que do lado dos Mungangas também tinha Abel, cujo senso de orientação é tão apurado quanto o de um cego no meio de um duelo com metralhadoras. Cruzamos o trecho inicial da RN 316 e não demorou muito chegamos ao nosso objetivo. Quando entramos na propriedade nos deparamos com uma mesa posta em baixo da sombra de uma enorme árvore. Muitas frutas, refrigerantes e um almoço com comida mais do que suficiente para todo o grupo. Não demorou muito e o prato principal foi apresentado: Júnior Verona trazia nas mãos dois pratos enormes repletos de perua, carinhosamente preparada por Rosa, esposa de Chico, gerente da propriedade.
Entre surpresos e admirados os colegas ciclistas não foram cerimoniosos, fazendo valer todo o esforço da pedalada, comendo a perua que deu nome ao pedal. Ao final o que se viu foram os pés da perua e uns pedaços da carcaça. Fonte fidedigna confidenciou-me que viu um(a) ciclista enrolando um naco do pescoço da perua num guardanapo e guardando no bolso da camisa, não sei se para comer no restante do caminho, para servir de tira-gosto mais tarde ou se para provar ao esposo(a) que de fato teve perua no pedal.
Enquanto o almoço era servido chegou um ciclista esbaforido. Soubemos depois que o cabra atrasou um pouquinho e quis dar um passamento, somente recuperando o fôlego quando sentiu o cheiro da perua espalhado no ar.
Fizemos a tradicional foto no lugar, oportunidade que agradecemos aos proprietários Ricardo Mota e sua esposa Katalina, que nos receberam com muita simpatia e nos acompanharam durante todo o almoço. Foi feito o desafio e pelo que ouvi parece que eles vão pedalar conosco.

O FINAL:

Depois de todo mundo alimentado e tomado banho de mangueira chegou a hora de voltar ao ponto que deixamos os carros. Vocês precisavam ver as expressões de alguns ciclistas quando souberam que ainda tinham que pedalar por mais um 3,5 Km. Teve gente que fez cara de choro, mas foi só começar a pedalar que tudo voltou ao normal. 
Às 13h00min chegamos ao nosso destino final, nos despedimos e tomamos nossos rumos.

PÓS FINAL:

Para quem pensa que acabou por aqui, sinto informar que não. Quando fui consultar o meu telefone celular verifiquei que tinha 51 chamadas (uma para quilômetro percorrido), todas feitas por Hiram Coala. O homem informava que os caranguejos que ele tinha comprado no começo do mês estavam quase atingindo o prazo de validade, de forma que se fazia imprescindível uma reunião da “Deretoria” do Rapadura Biker para decidir o destino dos carangas. Seguimos então, desta vez de carros, até o Bar do Chiquinho, no Parque Industrial e ali decidimos que o melhor a fazer seria comer os caranguejos para evitar desperdício de comida. Surgiu então uma questão de ordem: será que não fazia mal misturar peru com caranguejo? Depois de muita discussão, com argumentos prós e contras, foi lembrado por alguém que chegou mais cedo ao bar que já havia um precedente, pois já tinha comido o osso do patinho + caranguejo, ou seja, se não fez mal misturar pato com caranguejo, mal não fará com perua.
Seguiu-se uma ruma de cerveja gelada com as resenhas da pedalada. Ouvi muita coisa e uma especialmente chamou a atenção: de acordo com um informante credenciado pela CIDBDRB – Central Internacional de Boatos do Rapadura Biker há uma séria possibilidade de haver uma miscigenação entre Rapaduras e Mungangas. O assunto carece de maiores investigações e tão logo o banco de dados seja alimentado deixaremos vocês atualizados. 
Para quem não foi seguem as fotos.
Canaviais de São José do Mipibu.

Trilha após o Engenho Olho D´água.

Os tomadores de coco para que eu não passe por mentiroso.

É profissional!!!

Travessia do Rio Mipibu.

Mais travessia.

Erimar limpando a bicicleta.

Professor Raimundo no banco da menor vilar do mundo.

Na BR 101.

Depois da perua todo mundo pesado.

Olha o banquete.

Foi  aqui que achamos a perua.

Foto com os anfitriões.
Foto com Chico da Perua - o gerente.

Com Dona Rosa , a mulher que preparou a perua.


O trajeto.

24/05/2012

O reboque do Rapadura Biker começa a virar realidade

Caros Rapaduras:
Conforme já postado anteriormente iniciamos uma campanha para aquisição de um reboque para transporte de bicicletas. Com o crescimento do grupo e o incremento nas atividades ciclísticas o reboque se fez necessário, principalmente para não ficarmos a depender de locações, empréstimos ou outros recursos.
Realizamos no último dia 20 de maio de 2012 o sorteio de uma bicicleta dobrável, um capacete, um par de luvas, uma camisa do Rapadura Biker e uma rede para bagajeiro.
Colocamos à venda 400 (quatrocentos) bilhetes, ao preço unitário de R$ 10,00 (dez reais). Desse total conseguimos vender 367 (trezentos e sessenta e sete), resultando no lucro líquido de R$ 3.670,00 (três mil, seiscentos e setenta reais).
Enquanto não chegava a data do sorteio iniciamos uma pesquisa de preços. Nesse sentido viajamos até Pirpirituba-PB e ali tivemos um primeiro orçamento no valor de R$ 4.500,00 (quatro mil e quinhentos reais), relativos a um reboque para 10 (dez) bicicletas. Buscamos empresas em outros Estados, especialmente nos Estados de Goiás, Paraná e São Paulo, obtendo orçamentos oscilando entre R$ 3.700,00 (três mil e setecentos reais) e R$ 4.500,00 (quatro mil e quinhentos reais), sem o valor do frete, estimado em R$ 1.500,00 (hum mil e quinhentos reais). Solicitamos também orçamentos em Pernambuco e Ceará, mas não tivemos respostas. Aqui na Capital procuramos três fabricantes e todos, sem exceção, colocaram inúmeros obstáculos, principalmente quando verificavam que o nosso reboque tinha que ter um sistema de fixação para as bicicletas sem desmontá-las. Depois de muitas idas e vindas chegamos a um orçamento de R$ 3.700,00 (três mil e setecentos reais), entretanto, nesse valor estava incluído tão somente a prancha, sendo pago por fora os "transbikes". No final o reboque sairia muito além do nosso orçamento.
Depois de muitas idas e vindas encontramos um reboque ano 2011, portanto, relativamente novo, nas dimensões que procurávamos e pronto para receber pequenas adaptações para fixação dos "transbikes", podendo, chegar até 12 (doze) bicicletas, além de ter lugar para guardar pequenas bagagens e material de apoio, inclusive sendo possível adaptar uma caixa térmica (item muito útil para acondicionar gelo e outras coisitas mais). Adquirimos o reboque por R$ 3.000,00 (três mil reais), já devidamente emplacado e licenciado, pronto para ser transferido. Como o grupo ainda não tem personalidade jurídica a transferência será feita para o meu nome, no entanto, torno público aquilo que já é óbvio,  o bem integra o patrimônio do Grupo de Ciclismo Rapadura Biker.
No mesmo rumo encontramos uma empresa no Paraná que comercializa "transbikes" de teto, no estilho calha, com fixação no quadro da bicicleta. É o modelo que pretendemo utilizar, pois a bicicleta é transportada sem a necessidade de desmontagem. Iremos adquirir 10 (dez) peças ao preço unitário de R$ 68,00 (sessenta e oito) reais. 
O próximo passo agora é aguardar a chegada do material e fazer as adaptações necessárias, inclusive com uma pintura personalizada com as cores e a logomarca do Rapadura Biker.
Agradecemos a todos que ajudaram nessa empreitada, em especial aos que se empenharam em vender os bilhetes, alguns até adquirindo para si, bem como aos que compraram com o simples propósito de ajudar o grupo.
Seguem abaixo as fotos do dia do sorteio, inclusive com o registro do bilhete premiado: PARABÉNS TIA PENHA.
A premiação é a urna secreta.

Auditores da Rapaduration International Association.

Auditores cantando o Hino do Rapadura Biker.
Ministra da Saúde do Rapadura Biker balançando o bisaco.

Metendo a mão na cumbuca.
Verificando a autenticidade do lacre.
Registrando a ganhadora.
Confirmando a ganhadora: Tia Penha.
O filho da ganhadora compareceu para receber o prêmio.
O reboque ainda em fase de arrumação.

Roteiro dos Engenhos 2012

Faltando dois dias para o pedal do "Roteiro dos Engenhos" o meu telefone celular simplesmente apagou. Fiquei praticamente incomunicável na quinta e na sexta e, acostumado a utilizar o despertador do aparelho, esqueci de acionar outro método para auxiliar minha alvorada no sábado.
Acordei com o barulho da chuva na minha janela. Quando olhei para o relógio o danado apontava para às 06h30min. De longe ouvi o toque do meu celular (cujo problema foi resolvido por minhas crias depois de pesquisarem na Internet a origem do bug) e quando atendi era Hiram Coala do outro lado, perguntando gentilmente: "Ministro, cadê você". Respondi não sei o quê, mas disse que estava de saída. Para aumentar a minha angústia, pois odeio causar atraso, Hiram disse que o comboio estava de saída para o local da concentração e que tinham uns doze carros. Tranquilizou-me, porém, dizendo que já tinha levado Professor Raimundo de carona. Lembrei do tempo do Exército e vesti a roupa em trinta segundos, coloquei a bicicleta no carro e fui embora. No caminho ainda passei em Lagoa Nova para buscar Suzy (Primeira Dama das Minhocas), que conseguiu em pouco tempo pedalar mais do que o marido.
Às 07h25min chegamos no Posto Estivas e depois de um breve pedido de desculpas iniciamos o pedal. Tinha muita gente e como ainda estava agoniado com o atraso não tive tempo de memorizar todos os nomes e por tal motivo não postarei.
Saímos de baixo de chuva e logo constatamos que a RN 160, parte do nosso trajeto, estava praticamente quase toda asfaltada até Ceará-Mirim. Fui pedalando e pensando numa alternativa para deixarmos o asfalto, pois isso temos toda semana na Rota do Sol e senti que o grupo queria mesmo era trilha. Um pouco antes de Massangana encontramos um assentamento e optei por entrarmos na trilha. De início tudo tranquilo, cruzamos uma ponte sobre o rio Ceará-Mirim e logo em seguida dobramos à esquerda. Entramos dentro dos canaviais e o terreno começou a amolecer, de forma que o solo escuro muito molhado pela chuva começou a virar uma "papa". A bicicleta chega deslizava. Se você parasse de pedalar metia os pés na lama liguenta. Como dizia um pedreiro que trabalhou lá em casa: "era um verdadeiro barro de loiça".
Terminado o trecho de barro encontramos o rio Ceará-Mirim e fizemos sua travessia. Alguns passaram pedalando e outros preferiram levar a bicicleta nos braços, tal qual se conduz uma noiva ao ninho de amor. 
Deixamos a trilha e voltamos ao asfalto. Não demorou e chegamos na cidade. Seguimos direto para o Mercado Público que estava repleto em razão da feira. Como estávamos em vinte e nove todo mundo se espalhou entre os diversos pontos do mercado. Fiquei logo na entrada principal na companhia de Rochinha, Suzy, Abeane, Raiane, Xupeta, Esam, Giovana e outros. Pedi uma comida leve para enfrentar o restante do trajeto: "guisado de carne de boi com cuscuz" e para incentivar o arroto uma boa e velha "Coca-Cola KS". Rochinha fez o mesmo pedido e em pouco tempo chegaram os pratos à mesa. Tinha comida que dava para alimentar uma família. Começamos devagarzinho os trabalhos e em pouco tempo vi que algo não agradava Rochinha. Provoquei e ele respondeu: "pense numa mulher preguiçosa", pois sequer se deu ao trabalho de amassar o cuscuz, de forma que cada pedaço tinha mais ou menos o tamanho de um paralelepípedo. Foi, segundo ele, "o pior cuscuz que já comeu na vida". 
Abastecidos, pousamos para a tradicional foto em frente ao Mercado e tomamos rumo. No caminho deixamos à direita o Museu Nilo Pereira, que pelo jeito continua fechado. Mais adiante nos deparamos com os diversos engenhos (Cruzeiro, Carnauba, Verde Nasce e Mucuripe). A chuva fina insistia em cair.
Novamente deixamos o asfalto e pegamos a trilha. Passamos nas proximidades do "Banho das Escravas", mas como estava ficando tarde optamos por não visitar o banho. Lembro que da última vez que fomos ao local encontramos alguns rapazes suspeitos fumando algo que não parecia cigarro comum e um jumento se preparando para o combate. Para evitar surpresas é melhor deixar o "banho" para outro dia, pois afinal de contas já estávamos todos molhados.
Pedalamos alguns quilômetros e logo recebemos pelo rádio a informação de que o selim da bicicleta de Eduardo Campos (Juarez II, o retorno) tinha apresentado um problema. Enquanto esperávamos a solução do problema algumas sugestões foram apresentadas, mas por razões óbvias não vou publicá-las aqui. Basta dizer que houve até quem dissesse que "esse negócio de selim é luxo". 
Seguimos o trecho e mais adiante uma nova parada em razão de um pneu furado. A chuva continuava e a vegetação nessa região é muito bonita. Encontramos até uma enorme árvore caída no meio do caminho. No fim da trilha uma enorme subida e logo chegamos novamente ao asfalto.
Quem se juntou ao grupo foi João Paulo, ciclista de Ceará-Mirim, que nos viu passar na cidade e fez questão de nos acompanhar. Obrigado. É isso que gostamos de inspirar.
Passamos por Rio dos Índios, Coqueiro, Alto do Sítio e Capim. Nesse ponto o asfalto foi substituído por calçamento e pedalamos por aproximadamente 7 Km com uma horrível trepidação. Segundo um colega: "o melhor remédio para tendinite".
Não demorou e atingimos a BR 101. Fizemos uma parada na feirinha de frutas e ali tivemos a oportunidade de encontrar a laranja mais cara que já encontrei: cinquenta centavos por uma laranjinha. Não, nem que fosse a última vitamina "C" disponível na face da terra.
Às 12h50min chegamos ao Posto Estivas. Todo mundo cansado, as bicicletas cheias de lama, as roupas muito sujas, mas em todos um sorriso de satisfação com mais uma pedalada realizada.
Para quem não foi, ficam as fotos. Um abraço e até a próxima.
O trajeto.

O "barro de loiça".

Trilha nos trilhos.

Um dos engenhos.

O cuscuz encalacrado e a cara de Rochinha.

Improvisando bicicletário.

Feirinha na BR 101.

Mais um engenho.

Parte da galera.

Na frente do Mercado.

Na encruzilhada.

Pedalando no Vale.


Travessia do rio Ceará-Mirim.

Trecho asfaltado da RN 160.

Concentrando no Posto.

15/05/2012

ABC para construção de ciclovias

Caros Rapaduras:

Vejam que interessante artigo indicando que o conceito de ciclovia já existe há muito tempo.

A fonte: http://biciclotheka.wordpress.com/2012/05/14/abc-para-construcao-de-ciclovias/

 

ABC para construção de ciclovias

A de Adolf Hitler
B de Berlim
C de Carros

O Ano é 1934. Adolf Hitler já tinha chegado ao poder pelo Partido Nacional-Socialista. Neste mesmo ano, ele tornou obrigatório o uso das ciclovias, sob pena de punição para os ciclistas.
Ciclovias já vinham sendo usadas para melhorar o caminho dos ciclistas desde o final do século XIX. Já por volta de 1860, o Cyclist Touring Club, da Inglaterra,e a League of American Wheelmen reivindicavam ruas com melhor superfície para pedalar.
De fato, antes da política nazista, ciclovias eram melhoramentos feitos em parte da rua, para que os ciclistas não sofressem tanto com buracos e trepidações (era época das bicicletas bonneshaker, penny-farthing, sem pneus de borracha e outras melhorias que só surgiram em meados do século XX). Também haviam ciclovias feitas nas regiões rurais, como incentivo ao turismo.
Por volta dos anos 20, com a crescente indústria do automóvel, cresceu por toda a Europa a pressão para tirar os ciclistas das ruas e favorecer o fluxo dos carros, conforme mostra esta citação, registrada no First Dutch Roads Congress:
After all, the construction of bicycle paths along the larger roads relieves traffic along these roads of an extremely bothersome element: the cyclist.
Afinal, a construção de ciclovias ao longo das ruas principais elimina destas mesmas ruas um elemento extremamente incômodo: o ciclista.
Propagandas dos governos e das entidades de motoristas anunciavam as ciclovias como pró-ciclistas, e pela primeira vez empregaram o argumento da “segurança” para obrigar os ciclistas a usá-las.
Cartaz nazista de 1934.
O título diz: “Ciclovias evitam acidentes de trânsito”
Porém, até 1970, não há registro de reinvindicação de ciclovias, por parte de ciclistas, alegando motivos de segurança.
Em 1926, o uso da ciclovia foi tornado obrigatório, numa Alemanha já fortemente nazista – Hitler publicou Mein Kampf em 1925 e em 1926 foi fundada a Juventude Hitlerista.
Pela segregação, alegava-se também a necessidade de um “controle apropriado do tráfego”.
Em 1930, as primeiras ciclovias na Holanda foram construídas pela ANWB – uma associação de donos de automóveis.
Durante a Segunda Guerra, sob ocupação nazista, o uso de ciclovias foi tornado obrigatório na Holanda.
Na Alemanha Nacional-socialista, a construção de ciclovias tornou-se integrada à propaganda do Estado e do Partido Nazista como pré-requisito para ampliação do tráfego motorizado. Esta política foi apoiada pelo Nationalsozialistische Kraftfahrer-Korps (NSKK) (Corporação Nacional-Socialista dos Motoristas) e pelo Automóvel Clube da Alemanha – Der Deutsche Automobil-Club (DDAC).
Em 1º de outubro de 1934, de acordo com o Reichs-Straßen-Verkehrs-Ordnung (RStVO) – e na mesma linha de segregação e limpeza étnica promovida pelo Führer – para justificar a “limpeza das ruas”, cavaleiros, pedestres e ciclistas foram classificados como cidadãos de segunda categoria.
Juventude hitlerista - Youth Hitler
Fontes:
Geschichte der Radfahrwege (o mesmo texto em inglês, pode ser lido aqui History of cycle tracks, e a tradução em português, aqui)
Automobilverbände bestimmen Fahrradpolitik
A History of Cycle Paths

12/05/2012

Café com Motorista: Felipe Camarão - 12 de maio de 2012.

Hoje o Rapadura Biker abdicou de trilhar no Vale do Ceará-Mirim, percorrendo o trajeto denominado "Roteiro dos Engenhos". Mas se assim o fez, foi por uma boa causa. E bote boa nisso!
Desde que conheço Fabiano Silva, um dos integrantes da Bicicletada Natal, que o "Café com Motorista" é sempre pautado em suas conversas. Para ele esse é um importante meio de comunicação entre ciclistas e motoristas de ônibus, uma forma de nos conhecermos e descobrirmos o óbvio: estamos todos no mesmo barco.
Foi por pessoas como Fabiano Silva e por tantos outros que fazem acontecer o "cicloativismo" que os Rapaduras vestiram um dos seus mantos e foram juntar forças com os demais ciclistas, seguindo pedalando até o terminal de ônibus do Bairro de Felipe Camarão. Acredito que para muitos foi a primeira oportunidade de conhecer aquele Bairro, integrante da Zona Oeste da nossa Capital. Ali concentra-se uma grande massa populacional e infelizmente é um bairro estigmatizado, principalmente pelo aspecto da violência.
Quem não foi precisava ver a expressão de espanto das pessoas nas ruas já a partir da Cidade da Esperança. Vi crianças saindo correndo de casa para as calçadas, o que é comum. Vi também trabalhadores de uma oficina e donas de casas admiradas com nossa passagem, o que já não é tão corriqueiro. Conclui e espero que esteja certo que hoje contribuímos de alguma forma para devolver a dignidade daquelas pessoas, pois somente estão acostumadas a receber a visita dos "camburões" e dos "rabecões". Se às pessoas começam a ver que temos a coragem de pedalar pelas ruas do Bairro mais violento da cidade, no mínimo vão refletir e quem sabe concluir que alguma coisa está mudando.
Chegando em Felipe Camarão nos dirigimos ao terminal de passageiros e ali tivemos outra grata surpresa: um local limpo e com boa estrutura para quem vai aguardar o embarque no seu ônibus. Ali tivemos a oportunidade de conversar, ainda que rapidamente, com motoristas e cobradores, ouvindo seus reclamos e fazendo os nossos. Eles ficaram espantados com a nossa presença, muito embora já estivessem avisados. Um dos motoristas confidenciou: "não sabia que vinha tanta bicicleta". Aproveitei a deixa e disse a ele: "isso é por que amanhã é dia das mães e muita gente viajou, senão você ia ver".
Foi uma verdadeira confraternização. Ouvimos atentamente o que foi dito pelos motoristas e também deixamos nossas impressões, tudo feito de forma ordeira, sem agressões e sem desrespeito. 
Com o apoio da SETURN foi servido um delicioso café da manhã e tanto os motoristas quanto os ciclistas comeram à vontade.
Com o apoio da ACIRN ao projeto foi possível sortear uma bicicleta, um capacete e um colete refletivo entre os motoristas e cobradores, demonstrando assim o nosso interesse em trazê-los mais para perto do nosso ciclomundo.
Também foi possível adesivar alguns ônibus com a mensagem da "distância que aproxima" e quem foi nosso parceiro nessa foi Braz Impressões.
Depois de tudo foi a hora de voltar ao lar. Uma parte desfez o caminho de ida e os Rapaduras seguiram pela BR 226, fazendo a trilha do Guarapes só para não deixar passar em branco.
Espero que o projeto continue e que em pouco tempo seus frutos possam ser colhidos. 
Parabéns aos idealizadores do projeto e aos que tiveram coragem de transformá-lo em realidade.
Por fim, quero ressaltar uma frase do Profeta Gentileza, a quem tive o privilégio de conhecer. A frase tem tudo a ver com o que aconteceu hoje: "Gentileza gera gentileza".
Trajeto de hoje.
Ciclistas no meio dos passageiros no terminal de Felipe Camarão.
Mulheres ciclistas.
Parte da galera.
Adesivando.
Mais adesivo.
Pedro Brito falando em nome da ACIRN.
A bicicleta, o capacete e o colete sorteados com os motoristas e cobradores.
O café da manhã.
Quero viver sempre nessa sombra.