28/05/2012

O Pedal da Perua 2012


Do Dicionário Aulete Digital surrupiamos as seguintes informações:


" (ra.pa.du.ra) . sf.  1  Bras.  Açúcar mascavo em forma de pequeno tijolo. 
  2  Rapadela. 

  3  Bot.  Árvore (Licania utilis) nativa da Amazônia; CARAIPÉ. 
 [F.: rapar + -dura.].e 
ntregar a rapadura.

1   Bras.   Pop.  Dar-se por vencido, entregar os pontos, desistir de um plano, de uma competição etc. 
2  Morrer. "


"(munganga) s. f. (Bras., Nordeste) || mogango; caretas; esgares; momices: "Quando me encontrassem com os dentes de fora, fazendo munganga ao sol... " (Graciliano Ramos, S. Bernardo, c. 3, p. 19, ed. 1938.)   F. cp. Mogango."

As definições acima refletem bem o espírito de dois dos grupos que pedalaram juntos no sábado passado. Acho que esse é o segredo de tudo que fazemos. De nada adianta iniciar o final de semana acordando cedinho, deixar a família em casa e sair para trilhar de bicicleta todo equipado se você não levar os principais componentes: disposição e alegria.
Que sejam bem vindos os Mungangas e quantos outros grupos quiserem pedalar conosco.

A ORIGEM DA PERUA:

Desde 2007 fazemos a trilha da linha ou trilha do maquinista, como preferem alguns ciclistas.
Em uma das oportunidades tivemos a participação do inoxidável Júnior Verona, o ciclista que é feito de uma material diferente, pois passa a semana inteira envolvido em trabalho intenso e estressante, toma umas e outras, mas quando comparece na trilha apresenta uma condição física invejável, deixando para trás muita gente que “treina” toda semana na Rota do Sol. Estávamos praticamente no meio da trilha, tínhamos atravessado uma pequena ponte sobre a linha férrea quando paramos em um pequeno sítio para descansar. Ali fomos recebidos por Totinha, um velho conhecido de Júnior Verona. Não demorou muito e Júnior identificou o lugar, reconhecendo logo em frente ao sítio de Totinha a granja do seu amigo Ricardo Mota. Desse dia em diante sempre que fazíamos a trilha da linha a granja era parada obrigatória, sempre sendo muito bem recebidos pelo proprietário ou por “Chico”, o gerente.
Conversando com Júnior na última quinta-feira observamos que nunca mais tínhamos feito a trilha da linha e ele disse que já estava na hora e ia falar com Chico para ele arrumar uma perua gorda para comermos na tradicional parada no local.
Combinamos que manteríamos em segredo a existência da perua e somente aqueles que resolvessem encarar integralmente a trilha descobririam o segredo da perua. Assim foi feito.

A TRILHA:

A intenção era formular um trajeto que contemplasse diversos tipos de terreno, fugindo o quanto possível do barulho e da fumaça dos automóveis. Idealizamos um percurso com o mínimo de subidas e sempre com áreas de sombra e possibilidade de retorno ao ponto de origem de forma mais rápida e pelo asfalto. Apesar de ser um trajeto de 51 Km, a grande maioria do grupo conseguiu cumpri-lo integralmente e, quem não o fez, foi provavelmente pelo fato de ter outro compromisso e teve que voltar mais cedo.
A concentração foi a partir das 06h30min em um posto de combustíveis localizado na BR 101, entrada da rodovia de acesso ao Município de Monte Alegre-RN. Ao chegar já me deparei com diversos carros de ciclistas e muita gente já ultimando os preparativos. Uma contagem rápida apontou aproximadamente cinquenta ciclistas, dentre integrantes do Rapadura Biker, Ciclistas de Natal, Mungangas Bike e ciclistas recém iniciados e ainda sem identificação com grupo específico.
Às 07h00min subi na bicicleta e fiz a chamada para o início. Não pedalei cinco metros e a corrente da bicicleta rompeu, tal qual tinha acontecido na quinta-feira à noite na Rota do Sol. Fiquei bastante chateado, pois tinha “resolvido” o problema no dia anterior, de forma que fiquei surpreso com a segunda quebra da corrente em menos de 72 horas, considerando que se trata de uma corrente adquirida há menos de dois meses, ou seja, é praticamente nova. Respirei fundo e fiquei pensando numa alternativa rápida, pois emendar a corrente estava fora de cogitação, já que tinha perdido a confiança naquele componente. Sugestões foram apresentadas, todas muito bem vindas, entretanto, optei por pegar emprestada a bicicleta de Montinny, pois sabia que ele estava prestes a chegar e que não tinha a intenção de fazer a trilha. Foi a melhor solução, pois além de resolver o meu problema, contribui para utilizar a bicicleta de Montinny na trilha, pois a conversa com que se acalenta menino na Rota do Sol é que o homem só pedala no asfalto.
Problema resolvido iniciamos o trajeto. De início seguimos pelo asfalto na RN 316. Pedalamos alguns quilômetros e logo entramos à esquerda, trilhando entre canaviais. Devido às chuvas recentes a terra estava ainda umedecida e o pedal fluiu bem, exceto por alguns trechos de areia fofa, que exigiram um pouco mais de esforço do ciclista. No caminho mais uma corrente quebrada, problema rapidamente resolvido entre os Mungangas. 
Não demorou e adentramos na cidade de São José do Mipibu e para nossa surpresa descobrimos que a “menor vila do mundo” está sendo demolida. No local uma placa de “vende-se”.
Após consultar o grupo resolvemos que não faríamos parada para café da manhã em São José, pois isso certamente iria atrasar o pedal. Atravessamos a principal rua da cidade e logo seguimos no rumo do Engenho Olho D´água, entrando novamente na trilha entre canaviais. Não demorou e chegamos ao Rio Mipibu, cuja travessia não deu muito trabalho.
Chegamos novamente ao asfalto, desta feita na RN 315. Pegamos à esquerda e fizemos a travessia da BR 101 no rumo de Georgino Avelino. Aqui tivemos um problema em um dos pneus da bicicleta de Job, mas um ciclista precavido andava com um tubo de "spray de pimenta", apertou no pneu e fomos embora. De acordo com a esposa de Job, após a injetada do spray o homem ficou turbinado, dando trabalho para acompanhá-lo. Após a comunidade de Golandim e antes de Currais voltamos à trilha, entrando à esquerda na placa indicativa da Fazenda Papary, seguindo no rumo de Nísia Floresta e ali tivemos a oportunidade de tomar banho de bica, lanchar e hidratar, cada um ao seu estilo. Antes de chegar em Nísia o pequeno grupo que vinha na retaguarda teve uma oportunidade ímpar. Pela primeira vez na vida viram o Lindão, vulgo "Alex Alcoforado", fazendo um trabalho de força. O homem nos levou à fazenda de um tio e ali tomamos a segunda melhor água de coco do mundo (a primeira é do coqueiro de Guilherme Lima). Cada coco tinha aproximadamente quatro litros de água, sendo suficiente dizer que Jac tomou água, encheu duas garrafinhas e ainda deu o "restinho" pra Moab terminar. Mas o melhor de tudo foi que os cocos foram partidos pelo Lindão, movido aos elogios da Linda. Dentre os presentes alguém fez um comentário que considerei equivocado: "se os Lindos fossem depender das habilidades do Lindão como abridor de cocos, estavam lascados". Pura intriga da oposição. Continue assim Lindão, mas cuidado pra não decepar os dedos.
Em Nísia Floresta duas ciclistas resolveram ficar na rodoviária, ao passo que o restante do grupo seguiu novamente pelo asfalto no rumo da BR 101. Nas imediações da fábrica de móveis rústicos  alguns ciclistas resolveram seguir pelo asfalto, ao passo que o grande grupo entrou à direita, passando no bairro mais antigo de São José de Mipibu, o Bairro Novo. Parece contraditório, mas é a pura verdade. Fomos margeando a linha do trem e ao chegarmos numa bifurcação as pilhas do GPS arriaram. Troquei os "elementos", mas na ânsia de continuar o pedal não esperei o aparelho atualizar e seguimos por aproximadamente cem metros fora da trilha. Percebi rapidamente e tomamos o rumo certo, não sem antes ouvir todo tipo de gracinha e por muito pouco não levei uma vaia.  O que me aliviou é que no grupo estava presente a maior navegadora/orientadora dos Ciclistas de Natal e do Rapadura Biker, Neide do Gás. Soube também que do lado dos Mungangas também tinha Abel, cujo senso de orientação é tão apurado quanto o de um cego no meio de um duelo com metralhadoras. Cruzamos o trecho inicial da RN 316 e não demorou muito chegamos ao nosso objetivo. Quando entramos na propriedade nos deparamos com uma mesa posta em baixo da sombra de uma enorme árvore. Muitas frutas, refrigerantes e um almoço com comida mais do que suficiente para todo o grupo. Não demorou muito e o prato principal foi apresentado: Júnior Verona trazia nas mãos dois pratos enormes repletos de perua, carinhosamente preparada por Rosa, esposa de Chico, gerente da propriedade.
Entre surpresos e admirados os colegas ciclistas não foram cerimoniosos, fazendo valer todo o esforço da pedalada, comendo a perua que deu nome ao pedal. Ao final o que se viu foram os pés da perua e uns pedaços da carcaça. Fonte fidedigna confidenciou-me que viu um(a) ciclista enrolando um naco do pescoço da perua num guardanapo e guardando no bolso da camisa, não sei se para comer no restante do caminho, para servir de tira-gosto mais tarde ou se para provar ao esposo(a) que de fato teve perua no pedal.
Enquanto o almoço era servido chegou um ciclista esbaforido. Soubemos depois que o cabra atrasou um pouquinho e quis dar um passamento, somente recuperando o fôlego quando sentiu o cheiro da perua espalhado no ar.
Fizemos a tradicional foto no lugar, oportunidade que agradecemos aos proprietários Ricardo Mota e sua esposa Katalina, que nos receberam com muita simpatia e nos acompanharam durante todo o almoço. Foi feito o desafio e pelo que ouvi parece que eles vão pedalar conosco.

O FINAL:

Depois de todo mundo alimentado e tomado banho de mangueira chegou a hora de voltar ao ponto que deixamos os carros. Vocês precisavam ver as expressões de alguns ciclistas quando souberam que ainda tinham que pedalar por mais um 3,5 Km. Teve gente que fez cara de choro, mas foi só começar a pedalar que tudo voltou ao normal. 
Às 13h00min chegamos ao nosso destino final, nos despedimos e tomamos nossos rumos.

PÓS FINAL:

Para quem pensa que acabou por aqui, sinto informar que não. Quando fui consultar o meu telefone celular verifiquei que tinha 51 chamadas (uma para quilômetro percorrido), todas feitas por Hiram Coala. O homem informava que os caranguejos que ele tinha comprado no começo do mês estavam quase atingindo o prazo de validade, de forma que se fazia imprescindível uma reunião da “Deretoria” do Rapadura Biker para decidir o destino dos carangas. Seguimos então, desta vez de carros, até o Bar do Chiquinho, no Parque Industrial e ali decidimos que o melhor a fazer seria comer os caranguejos para evitar desperdício de comida. Surgiu então uma questão de ordem: será que não fazia mal misturar peru com caranguejo? Depois de muita discussão, com argumentos prós e contras, foi lembrado por alguém que chegou mais cedo ao bar que já havia um precedente, pois já tinha comido o osso do patinho + caranguejo, ou seja, se não fez mal misturar pato com caranguejo, mal não fará com perua.
Seguiu-se uma ruma de cerveja gelada com as resenhas da pedalada. Ouvi muita coisa e uma especialmente chamou a atenção: de acordo com um informante credenciado pela CIDBDRB – Central Internacional de Boatos do Rapadura Biker há uma séria possibilidade de haver uma miscigenação entre Rapaduras e Mungangas. O assunto carece de maiores investigações e tão logo o banco de dados seja alimentado deixaremos vocês atualizados. 
Para quem não foi seguem as fotos.
Canaviais de São José do Mipibu.

Trilha após o Engenho Olho D´água.

Os tomadores de coco para que eu não passe por mentiroso.

É profissional!!!

Travessia do Rio Mipibu.

Mais travessia.

Erimar limpando a bicicleta.

Professor Raimundo no banco da menor vilar do mundo.

Na BR 101.

Depois da perua todo mundo pesado.

Olha o banquete.

Foi  aqui que achamos a perua.

Foto com os anfitriões.
Foto com Chico da Perua - o gerente.

Com Dona Rosa , a mulher que preparou a perua.


O trajeto.

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