19/06/2012

11º Encontro Nacional de Cicloturismo: segunda parte



Pense numa dormida boa!!! O que mais chamou a atenção é que apesar da altíssima umidade em nenhum momento sentimos cheiro de mofo. Outra coisa interessante é que apesar de estarmos literalmente "dentro do mato" não se escuta barulho de cigarras, grilhos ou outras espécies. É uma silêncio que chega a ser "ensurdecedor".
Amanheceu e a sexta-feira não trouxe o sol. Tomamos café e rapidamente deliberamos sobre qual trilha fazer. Vários critérios foram levantados: alguns opinaram pela trilha mais extensa, outros pela mais curta, um segmento optou por trilhar a menos íngreme, mas no final a trilha vencedora foi a "Bairro do Centro" e o motivo foi óbvio: tinha uma bodega no roteiro e, por conseguinte, uma forte probabilidade de encontrarmos algo para "degostar".
Na saída do Espaço Araucária a organização anotou nossos nomes e a trilha que escolhemos. Cada um recebeu uma planilha, mas no nosso caso coube a Serginho o papel de guia. 
Logo no início percebemos o que nos esperava: uma paisagem deslumbrante. Araucárias de um lado e de outro. Barulho de água corrente a todo momento e no alto da Serra da Mantiqueira uma névoa branca mais parecida com o algodão doce do País de São Saruê. Na primeira bifurcação seguimos pela direita e percebemos que estávamos no alto, vendo ao nosso lado a capelinha da igrejinha do Bairro do Centro, nosso destino. Nesse ponto encontramos um casal (Elza e seu esposo) fazendo uma caminhada. Pedimos que tirassem uma fotografia do grupo e logo começou uma agradável conversa. Para encurtar o assunto, paramos tanto no caminho para fotografar que o casal, mesmo a pé, acabou sempre nos alcançando e tirando fotos nossas e conosco.
Depois de uma subidinha intensa chegamos ao Bairro do Centro. Trata-se na verdade do ponto de apoio da região. Ficamos sabendo que ali as crianças estudam até antes do ensino médio e depois são encaminhadas para Campos do Jordão. O local também dispõe de um posto de saúde e ponto de comércio. Uma tranquilidade total. Na varanda alguns senhores sentados e na rua duas crianças brincando, dentre as quais uma de bicicleta. Na entrada um cemitério pintado na cor azul anil, cujo muro segue a topografia do terreno, sendo cheio de altos e baixos. No alto, admirando tudo, uma imponente "igrejinha", como se a observar a vida das pessoas.
Os faros apurados dos nossos batedores (Bebê, Júnior Verona e Kuka) nos levaram rapidamente ao "point" do lugar: uma autêntica bodega mineira, com direito a uma cachaça brejeira, tubaína, sinuca e pebolim, vulgarmente conhecido aqui no Nordeste por Totó. Na condição de clientes exclusivos tomamos assentos nos melhores e únicos tamboretes. Não demorou e Cláudia Celi já tinha feito amizade com a proprietária do estabelecimento, conseguindo inclusive que ela preparasse um tira-gosto. Enquanto o prato era preparado tratamos de jogar umas partidas de sinuca, oportunidade em que fundamos uma nova facção do grupo, o Rapadura Snooker, revelando Suzy e Neide como expoentes da modalidade. As duas conseguiram com 125 tacadas colocar a bola branca 124 vezes na caçapa. Nem no Japão tem tal índice de suicídio.
Não demorou e chegou o nosso tira-gosto: uma linguiça calabresa, que segundo seu Kuka, podia deixar de molho um mês dentro do Rio Potengi que a danada ainda ficaria salgada. Para rebater tomamos uma tubaína, mais doce do que beijo da primeira namorada.
Enquanto nos divertíamos contamos com a dileta presença de William (aquele que ajudou a desatolar a Sprint) e com outro rapaz da comunidade. Este, ao que parece já tinha tomado algumas e talvez na tentativa de ser simpático ou então por mera gaiatice ensaiou dizer uns galanteios com nossas mulheres, entretanto, compreendemos e relevamos, não sendo necessário utilizar nossas peixeiras escondidas dentro dos guidões das bicicletas. Soube depois que ele ainda tentou um galanteio com Claudia Celi, mas ela foi logo dizendo: "cuidado que aquele negão lá fora já saiu no Programa Linha Direta".
Despedimo-nos de todos, inclusive do pudim de cana, montamos nas bicicletas e apontamos para o Espaço Araucária. No caminho encontramos Carlos e Malú, cicloturistas que também participam do Encontro e viajam com os filhos num home car, já tendo feito várias viagens, inclusive internacionais. Abro um parêntese para ressaltar que Malú ao descobrir que tinha uma delegação do RN presente veio ao nosso encontro e revelou que é de Pau dos Ferros-RN, com certeza ela tem um pé no Oiticica Biker. Não bastasse isso, depois de muito confabular com Neide, Malú descobriu que já foi aluna dela, desbancando assim um dos mitos do Rapadura Biker. Refiro-me ao Professor Raimundo, que por onde passa encontra alguém que foi seu aluno. A partir de agora temos também a Professora Neide, encontrando alunas que aprenderam com ela as primeiras letras.
De volta ao Espaço fomos direto para o refeitório. Enquanto esparávamos o sino tocar ficamos admirando a natureza. Aqui tivemos mais uma momento singular da viagem: Evandro Bebê afirmou ter visto um Tucano voando bem próximo ao refeitório. Alguém discordou e disse que era um "sagui". Criou-se então a controvérsia que somente foi esclarecida quando o tucano passou novamente voando e foi confirmada a sua identidade. Com essa proeza chegamos bem perto de quebrar o recorde de Janiara que certa feita confundiu um jumento com um galo.
De barrigas cheias resolvemos fugir um pouco da programação e fretamos uma Kombi para nos levar em Campos do Jordão. Às 14h00min, pra variar debaixo de chuva, deixamos o Espaço Araucária na Kombi pilotada por Andreza, uma simpática moradora do lugar. Não sei quem é mais valente: Andreza por dirigir tão bem naquelas estradas escorregadias; a Kombi por aguentar terreno tão ruim; ou nós, que enfrentamos o desafio.
Depois de muitas subidas e descidas descobrimos que na verdade 22 Km nos separavam de Campos do Jordão. O contrato inicial era somente para nos deixar e buscar mais tarde, mas no caminho contamos com a sensibilidade de Andreza e mudamos o contrato, de modo que ela nos acompanhou durante todo o resto do dia. Fizemos um tour pela cidade, visitando o Morro do Elefante, a Ducha de Prata e o Centro, passando na famosa Baden Baden.
Depois de conhecer rapidamente a cidade resolvemos parar para estabilizar o nível do alcóol, que estava um pouco baixo em razão do tempo frio. Paramos numa cervejaria e para fazer jus ao fato de estarmos no Município mais alto do Brasil pedimos umas torres de chopes. A farra foi grande e quem chegou para compor o grupo foi Zé Bonifácio, Anete, Verinha, Mariane e Paulo Victor. Ao nosso lado tinha um simpático grupo de jovens emborcando todas. Tratamos de avisar que era o aniversário de Zé Bonifácio e eles fizeram questão de cantar parabéns. A essa altura do campeonato as torres gêmeas já tinham caído.
Terminou a farra e chegou a hora de voltar pois tínhamos que assistir a palestra de Danilo Perroti, o homem livre. Pra variar estava chovendo também na saída e Andreza resolveu buscar a Kombi no local estacionado, evitando assim que nos molhassemos. Enquanto esperávamos constatamos um verdadeiro desfile de carrões (BMW, Mercedez, Mitsubishi e outras marcas importadas). Cada motorista mais bossal do que outro. Diante daquela cena não poderíamos fazer feio. Combinamos que na chegada da Kombi fingiríamos uma pane e sairiamos empurrando entre os carrões. Assim fizemos, diante dos olhares atônitos dos "ricos" presentes na passarela de Campos do Jordão. Às gargalhadas entramos na Kombi e seguimos nosso rumo. No caminho uma parada num supermercado para abastecer. Todos os homens desceram para esvaziar a bexiga e foram gentilmente atendidos pelo gerente do supermercado que nos cedeu um banheiro no depósito. Enquanto o serviço era feito alguém (a investigação ainda não foi concluída) soltou um peido dentro do depósito do supermercado, levando o gerente a dizer: "Pra mijar tudo bem, mas jogar merda vai contaminar a mercadoria".
Chegamos ao Espaço e nos dividimos. Alguns foram dormir e outros assistir a palestra. No meu caso fui assistir em homenagem a Danilo, que tivemos a oportunidade de conhecer quando passou por Natal.
Terminou a palestra e chegou a hora de voltar para o sítio. Olhei para um lado e pra outro e só restou eu e seu Kuka. Enquanto tomávamos um vinho para enfrentar o caminho enlameado, a chuva e o frio quem chegou foi Luizão (Luiz Santana) que disse que ia nos acompanhar para conhecer nosso rancho. Passamos no Bambuzal (área de camping) e quem também resolveu fazer a "trilha" conosco foi César e Katy. Saímos numa escuridão total, em fila indiana, seguindo uma mínima luz de uma laterna que de tão pequena é encaixada num cortador de unha que seu Kuka trazia no bolso. Cheguei no chalé com lama até nos olhos. Os colegas ficaram admirados com nossas acomodações e mais ainda com nossa coragem.
Enquanto os amigos voltavam ao Bambuzal fiquei sozinho na varanda sorrindo de mim mesmo. Lá dentro, Claudia Celi que tinha vindo mais cedo com bastante dor de cabeça permanecia acordada, toda encolhida, tremendo de frio e de medo de um bicho que "bufava" na janela. Era um cavalo mantido amarrado no local durante a noite. Fiquei esperando o sono e imaginando: bem feito pra aprender a não arengar mais com seu homem. Às vezes é melhor um burro amigo, do que um cavalo desconhecido.
Na trilha.
Casal caminhando: Elza e esposo.
Bairro do Centro.
Rapadura Snooker.
Claudia Celi despachando na bodega.
Claudia Celi com Andreza.
Uma das torres.
Chegada de Vera Lúcia e Anete.
Galera local.
Os carrões.
Mais carrões.

A Kombi do Rapadura.
Embarcando.
 



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