04/02/2011

A bicicleta de Lourenço

Para quem não sabe Lourenço é um paraibano que faz serviço de pintura aqui em casa e na casa dos meus familiares. Na verdade o homem é um verdadeiro "Magaiver", pois além de pintar, também executa serviços de pedreiro, elétrica, hidraúlica e outras coisas do ramo.
Ele mora no Bairro das Quintas, tem mais de 60 anos, uma família enorme e todo dia (exceto domingo) sai de casa para desempenhar suas funções.
Seu meio de locomoção é uma bicicleta com 18 marchas. O quadro além de ser antigo está muito desgastado pelo tempo e uso intenso. Diz Lourenço que é a "bicicleta é americana" e foi dada por um cliente como pagamento por um serviço efetuado.
O homem pedala diariamente cerca de 25 Km, o que resulta aproximadamente em uma média mensal de 600 Km. A bicicleta é uma bagaceira só e estou cansado de receber telefonemas de Lourenço dizendo que vai chegar atrasado porque a dita cuja apresentou algum problema.
Perdi a conta das vezes que já doei algum item para a bicicleta, sem falar nos adjutórios que Bené (meu irmão) e Benedito (meu pai) também já deram. Perdi também a conta das vezes que já recomendei Lourenço a trocar de bicicleta, mas tudo em vão. A resposta é sempre a mesma: "Doutor Benilton, a bicicreta tá novinha. É muito boazinha e é quem me aguenta". Fazer o quê?
Para encurtar o assunto a bicicleta de Lourenço carrega mais troços de que caminhão baú da Avenida 4. Outro dia ele saiu aqui de casa com 03 ventiladores quebrados, uma tv de 14 polegadas, um pedaço de mármore medindo aproximadamente um metro quadrado, um saco de manga coité e um pneu velho de Fiat Doblô. Parecia aquelas imagens de bicicleta na China ou na Índia. Você via tudo, menos o ciclista.
Ontem pela manhã Claudia me deu uma missão espinhosa: buscar a bicicleta de Lourenço na nossa antiga casa, pois ele veio fazer um serviço aqui no condomínio, e como não anda com nenhum documento, Claudia teve que trazê-lo de carro, deixando a bicicleta na outra casa para que depois eu fosse buscá-la. Pois bem. Fui buscar a peça rara e quando arrumei a geringonça no transbike do carro uma coisa me veio de imediato à cabeça: vou sair com essa bicicleta no carro e com certeza vai aparecer algum engraçadinho no caminho e vai tirar onda comigo. Não deu outra. Bastou sair de casa e seguir pela Avenida Ayrton Senna, no sentido Cidade Verde-Roberto Freire. Quando parei no primeiro semáforo encostou ao meu lado um carro também com um transbike. Percebi que o motorista buzinava como se querendo avisar alguma coisa. Imaginei: será que o trambolho caiu lá atrás! Olhei pelo retrovisor e a peça de museu continuava lá impoluta e firme. Dei uma de doido e ignorei o motorista ao meu lado e segui o meu caminho. Mais adiante outro sinal fechado e quem parou outra vez ao meu lado? Novamente o provável ciclista e desta vez além de buzinar, foi além: baixou o vidro da porta do lado do carona e ficou acenando para que eu baixasse o vidro da minha porta. Meio temeroso, mas também preocupado, concordei e lentamente fui baixando o vidro, doido para que o sinal abrisse e o cara fosse embora. Quando finalmente o vidro baixou o cara olhou bem nos meus olhos e disse com a cara mais lisa do mundo: "Quer vender a máquina aí atrás". Juro pra vocês que se eu andasse armado naquele dia tinha cometido um crime. Procurei ao lado para ver se tinha pelo menos uma bola de papel pra jogar na cabeça do indivíduo, mas nessas horas a gente não encontra essas coisas. Pra completar o cara disse o desaforo e saiu rindo da minha cara. Fiquei tão irritado que sequer consegui anotar a placa do veículo, nem que fosse para divulgar aqui no blog e considerar o proprietário daquele carro como "persona non grata".
Fui embora fulo da vida e quando cheguei em casa tava Lourenço todo sorridente com a chegada da bicicleta dele. Claudia olhou pra mim e perguntou se tinha acontecido alguma coisa. Fiquei calado e tive vergonha de contar o acontecido.
Hoje vinha voltando de Bananeiras sozinho e lembrando do ocorrido. Fiquei rindo de mim mesmo e também da minha falta de presença de espírito, pois na hora do desaforo eu fiquei calado. Agora, com sangue frio várias respostas me vieram a cabeça, mas a melhor, na minha opinião, teria sido: "vendo não, pois essa bicicleta é de um trabalhador que sustenta a família fazendo uso dela".
Vou agora torcer que o gozador saiba ler e pelo menos ligar um computador para que ele possa ter a felicidade de acessar o blog e deparar-se com essa postagem.

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