19/01/2011

Cordel da Viagem do Elefante

Hoje cedo quando acordei Claudia me passou um cordel "Caravana Mário de Andrade Rumo à Ponte Newton Navarro". Disse que foi presente de Pedrinho do Cartório. Fui no banheiro, meu local predileto para as boas leituras, e então pensei em fazer um arremedo de cordel sobre a Viagem do Elefante. Os cordelistas que me perdõem:


No dia seis de janeiro, na cidade do Natal
Uma ruma de ciclistas, pegou forte no pedal
O destino era certo e a turma era forte
Tinham por objetivo trilhar o rio grande do norte
No grupo tinha de tudo, homem e mulher elegante
E assim todos partiram na Viagem do Elefante

Saíram debaixo de chuva, num dia de feriado
Em Natal se comemora o Dia de Reis falado
Seguiram pela estrada chamada Via Costeira
No caminho encontraram  prego velho, vidro e sujeira
Mas mesmo assim prosseguiram e passaram na Fortaleza
Subiram a Ponte de Todos e viram tanta beleza

Chegaram a  Extremoz e encontraram fartura
Raimundo da Real Ciclo trouxe fruta e rapadura
Mais adiante veio o asfalto da BR 101
Pedalaram com empenho, sempre cabendo mais um
Já no horário previsto chegaram ao Rio do Fogo
Garibaldi os recebeu, com simpatia e arrojo  

A viagem foi em frente, pois o tempo exigia
Chegaram a Touros com festa e cheios de energia
Lá na casa de Gracinha tinha comida em fartura
Hora de comer um peixe pra esquecer a rapadura
Teve gente que comeu mais que cabia na barriga
E Doutor Júnior gritava: é pra alimentar  as lombrigas

No outro dia o caminho foi pra terra dos tremores
Quem se juntou ao grupo foi Miltão sem dissabores
Chegamos na Cana Brava e Maria Brito acolheu
Era muito abacaxi e o grupo logo comeu
Fomos então para o trecho e encontramos buraco
Mas logo chegou João Câmara e ninguém chegou um caco

O dia clareou cedinho e já tomamos café
Nosso destino de hoje é pro lado da maré
Quando olhamos pra estrada vimos o tamanho da reta
Mais nada mais nos assusta quando a vontade é certa
Avistamos o Macau e de longe alguns ciclistas
Era o Gringo, Chan, Jean e Edinho, que esperavam na pista

Depois de uma noite sofrida, com calor e muriçoca
Já seguimos nosso rumo, sem café ou tapioca
Quando chegamos a Pendência dois cabras nos aguardavam
Chegavam do Mossoró e com muita pressa estavam  
O grupo ficou maior, mais nem assim foi mais lento
Durante todo o trajeto, não sofremos com o vento


Passamos na Costa Branca e o mar estava azul
Nunca vi tanta beleza, tanto no norte e no sul
Vimos Praia do Rosado, Ponta do Mel e Redonda
O povo tava sorrindo e o mar fazendo onda
Passamos bem na entrada da querida Areia Branca
Mas o tempo nos chamava e pedalamos sem banca

Antes do Mossoró paramos lá no Amaro
Comemos feito jumentos, sem enfado e no embalo
Entramos na terra  boa, tal e qual o Lampião
Só que fomos recebidos com amor no coração
O cabra que nos acolheu era tranquilo e de luz
Fazia jus ao nome: valeu Vagno Jesus

Em Mossoró ainda fomos lá no quartel da Polícia
O Coronel Eliezer nos recebeu com perícia
Para espantar o calor dormimos numa pousada
Teve ar-condicionado, água quente e congelada
No outro dia o café foi servido com presteza
Foi muita comida boa e tamanha gentileza

Quem chegou do Pau dos Ferros foi o colega Nelsinho
Trouxe seu filho Guilherme pra gente não ir sozinho
Seguimos pro Apodi, já com um pouco de saudade
Na entrada da cidade fomos conhecer o Lajedo de Soledade
Pense num monte de pedra, uma coisa interessante
Tudo bem combinadinho com a Viagem do Elefante

No Apodi tinha amigo já esperando  a gente
Júnior de Deca e Adriana, pense num casal decente
Abriram as portas da casa e só nos deram alegria
E confirmaram prá nós o que é a simpatia
No outro dia quem chega é Fernando e Nelsinho
Quem também se apresentou foi Guilherme, o caladinho

No caminho de Pau dos Ferros tivemos grata surpresa
Lá nas bandas do Itaú tivemos também presteza
Pois Cleodécio e Raniere esperavam numa sombra
Trouxeram água de côco para espantar a lombra
Quando bateu meio dia chegamos na Princesinha
A acolhida foi grande, tudo de bom ali tinha

Conhecemos gente boa do Ciclismo Pauferrense
Falamos até na rádio, sobre a viagem da gente
Comemos pizza a noite e jogamos conversa fora
No outro dia o café, em Lafaeite foi da hora
Seguimos o nosso rumo e o barro apareceu
Foi mais de 15 Km, mas ninguém arrefeceu

Passamos pelas beiradas lá da Serra do Martins
Acho que nesse dia doeu até a cabeça dos rins
Vencemos mais uma etapa e com muita galhardia
A paisagem ajudou e também a teimosia
Chegamos com muita fome e dando a volta por cima
Quando a gente se deu conta estava na Serra do Lima

Na entrada do Patu Benilson nos recepcionou
Indicou churrascaria e a pousada apontou
Dormimos lá no conforto e sol logo nasceu
Arrumamos nossos troços e fomos com fé em Deus
Na Paraiba entramos por  Belem do Brejo do Cruz
Mais adiante o Brejo, tinha um cheiro de cuscuz

Saímos da Paraíba no rumo do Seridó
No caminho um ciclista deixou de pedalar só
O seu nome era Kiko e pedalava sem manha
Seguia na barraforte até Jardim de Piranhas
Nessa terra referida foi onde me assustei
Paguei cinco contos numa coca e quase abufelei

Já depois de meio dia entramos no Caicó
Pense numa terra quente, é onde mora o sol
Arranchamos num lugar chamado de Guanabara
Tudo limpo e arrumado e a despesa não foi cara
No outro dia cedinho, bucho cheio e roupa limpa
Seguimos nosso caminho, destemidos e sem finta

Do Caicó pra diante fomos sem eiras nem beiras
Já tava tudo acertado pra dormir no Gargalheiras
No caminho encontramos o nosso anfitrião
Era Pedro do Cartório, sempre com muita emoção
O cabra nos recebeu com gentileza e alegria
Não há dinheiro no mundo que pague tal galhardia

O almoço foi na cerâmica, feito por Dona Raquel
Esposa de Edinaldo, pra quem eu tiro o chapéu
Naquele dia ainda fomos lá na terra da xelita
Fomos na Sidy´s TV para fazer entrevista
Tudo muito organizado, muito simples e eficiente
Não ficou a dever nada, pense num povo competente

Deixamos o Acauã e  a saudade batia
Contudo olhei pra estrada e ela dizia: joga fora a letargia
O trajeto foi comprido, sofrido e com muito aboio
Somente chegamos ao fim graças ao carro de apoio
Quem estava lá na serra, sentado bem magistral
Era o príncipe da sanfona: Aleijadinho de Pombal

Descemos a serra com força, porém com muito cuidado
Nada de extravagância, ninguém quer chegar ralado
De longe olhei a Santa e ela olhava pra mim
Naquele momento então vi que o trecho tinha fim
Quando cheguei na cidade fiz um prato com cuscuz
Olhei pra Santa e disse: sou bem vindo a Santa Cruz

No outro dia bem cedo já seguimos nosso rumo
Lá no carro de apoio o Pinto dava o prumo
Chegamos em Tangará e tudo se alumiou
Paulo e Lázaro prepararam um café para Doutor
Pense nuns cabras simpáticos que nem conheciam a gente
Mais abriram suas portas e nos deixaram bem contentes

Dali fomos embora no rumo de Passa e Fica
Quando entramos na cidade pense numa festa rica
Dona Neide da pousada, encomendou foguetório, carro de som e rojão
Seguimos com o povo todo com tamanhã emoção
Até o ciclista João, o único sobrevivente
Nos deu a honra e pedalou sempre juntinho da gente

Na pousada de Dona Neide a alegria impera
Teve galinha caipira, suco e bife de panela
Naquele momento então a barriga já estava oca
E pra quem teve coragem: subir a Pedra da Boca
Fiquei nas minhas arrumações e pensando com meus botões
Já tou pertinho de casa e transbordando emoções

O sol entrou na janela e foi o primeiro sinal
Fizemos nossa oração – compromisso matinal
Em pouco tempo chegamos na Capital do Agreste
Nova Cruz nos recebeu com vento vindo do leste
Enfrentamos o danado e rumamos pra Montanhas
Passamos no Pedro Velho e pedalamos sem manhas

Depois da antiga Penha, chegamos em Cunhaú
A barra tava bonita, a brisa fresca e o céu azul
Apeiamos da magrela e fomos nos hospedar
A pousada era gostosa, digna de marajá
Dormi feito uma preguiça, tal qual pato em piscina
Noutro dia tava pronto pra cumprir a nossa sina

Foi bonito e relevante ver os amigos presentes
Quem pedala e não pedala veio abraçar a gente
Fui embora pedalando pra não derreter de choro
Parei um pouco e pensei: sou feliz e tenho decoro
Chegamos em Simbaúma e de lá pro Chapadão
A areia tava fofa, mas o povo tava durão

Atravessamos a Pipa e depois Tibau do Sul
Chegamos em Malembá e no mar bonito azul
Passamos lá em Barreta, Camurupim e Tabatinga
Antes de chegar em Búzios ainda vi a restinga
Búzios veio em seguida e depois o Pirangi
O Cotovelo, Pium, Natal tava bem ali

Lá na hora combinada eu vi a Rota do Sol
Entrei na Cidade Verde que parecia um mocó
Quando vi o Plano 100 o choro quis começar
Quando ouvi o foguetório começei a arrepiar
E como se não bastasse uma bandinha tocando
Os amigos todos juntos, tudo animado e dançando

Foram metros de abraços, beijos e emoção
A tristeza ali não tinha lugar para ela não
Olhei com o canto dos olhos e vi com muita alegria
Animados feitos pombos, tava ali a minha cria
Corri então para eles e esqueci que ardia a pele
Agarrei os meus meninos e beijei a Claudia Celi.

5 comentários:

CLEODECIO CHAGAS disse...

VLW POETA, PARABENS POR ESSA GRANDIOSA AVENTURA, BENILTON DAR UM ABRAÇOS EM TODOS, E PAU DOS FERROS AS PORTAS ESTAO SEMPRE ABERTAS PRA VCS. FICA AQUI MINHAS FELICITACOES

carlos camboim disse...

parabéns...vc fez o retrato da viagem no cordel...faltou só a bufa dos kabas na pedra da boca....aonde quese mata seu tico e a filha......

Eduardo Campos disse...

Ficou muito bom!!!! Os Rapaduras já tem material para o primeiro livro. Vamos que vamos!!!

Unknown disse...

So assim revela-se um autêntico cordelista juramentado, parabens, ficou perfeito. Voce é soda amigo, espero que esse seja só o primeiro de muitos. Um abraço.

Pedro George de Brito disse...

Eita grupo duro e forte
O rapadura biker tem
Rodou o Rio Grande do Norte
Foi linheiro como um trem.

Parabéns!!!